Situada na costa oeste africana, Serra Leoa foi criada em 1787 para ser uma colônia e receber escravos emancipados pelos ingleses após a independência dos Estados Unidos. Os não-nativos africanos, conhecidos como krios, foram colocados pela coroa britânica nos altos postos da administração, de modo que nos anos 50, Serra Leoa proclamava sua lealdade à Rainha, enquanto o resto das colônias tratava de buscar sua independência.
Em 1968, após sucessivos golpes de estado, Siaka Stevens, do Congresso de Todos os Povos (APC), declarou Serra Leoa república independente e estado uni-partidário. Sua presidência durou 17 anos, e, no meio de grave crise, foi seguido pelo general Joseph Saidu Momoh.
Serra Leoa só despertou mesmo o interesse dos europeus quando o diamante foi descoberto, em 1930. Até dois anos após sua independência, apenas os brancos exploravam a pedra. Desde que as minas foram nacionalizadas, não houve mais paz.
Desde 1961, data de sua independência, Serra Leoa vive alternando governos civis, militares e golpes violentos. O país, entre os mais pobres do mundo, apesar das jazidas de diamantes nas mãos de estrangeiros, pouco interessa às grandes potências européias e foi deixado à deriva: não vale a pena enviar exércitos, nesse clima generalizado de violência e pobreza, a troco de nada.
O atual conflito iniciou-se com a derrubada do presidente Ahmed Tejan Kabbah por rebeldes da Frente Revolucionária Unida, liderados por Foday Sankoh, atualmente na prisão. Invocando a legalidade da eleição de Kabbah, a Nigéria e outros países enviaram uma força de intervenção que reconduziu o ex-presidente ao governo e expulsou os rebeldes da cidade, em fevereiro de 1998. Em dezembro do mesmo ano, os rebeldes, muitos dos quais são adolescentes, retomaram Freetown: somente na primeira quinzena de lutas, houve mais de 10 mil mortos. Em seguida, as forças governamentais conseguiram melhorar a própria situação, mas o caos continua.
De dia, predominam as forças do governo, à noite, os guerrilheiros adolescentes, nada tendo a perder a não ser a própria vida e liderados por guerrilheiros adultos, entregam-se à matança e ao estupro: decepam braços e pernas, cortam o ventre das grávidas, jogam as vítimas no mar ou abandonam os cadáveres nas ruas como alimento para os abutres. Não existe mais autoridade nesse país que segue a trajetória de outros países africanos, como Ruanda, Burundi e Angola, tristemente lembrados pela selvageria das matanças étnicas, e é difícil prever uma solução para o conflito. Os guerrilheiros reclamam a libertação de seu líder, mas o governo não parece disposto a ceder.
Em 1968, após sucessivos golpes de estado, Siaka Stevens, do Congresso de Todos os Povos (APC), declarou Serra Leoa república independente e estado uni-partidário. Sua presidência durou 17 anos, e, no meio de grave crise, foi seguido pelo general Joseph Saidu Momoh.
Serra Leoa só despertou mesmo o interesse dos europeus quando o diamante foi descoberto, em 1930. Até dois anos após sua independência, apenas os brancos exploravam a pedra. Desde que as minas foram nacionalizadas, não houve mais paz.
Desde 1961, data de sua independência, Serra Leoa vive alternando governos civis, militares e golpes violentos. O país, entre os mais pobres do mundo, apesar das jazidas de diamantes nas mãos de estrangeiros, pouco interessa às grandes potências européias e foi deixado à deriva: não vale a pena enviar exércitos, nesse clima generalizado de violência e pobreza, a troco de nada.
O atual conflito iniciou-se com a derrubada do presidente Ahmed Tejan Kabbah por rebeldes da Frente Revolucionária Unida, liderados por Foday Sankoh, atualmente na prisão. Invocando a legalidade da eleição de Kabbah, a Nigéria e outros países enviaram uma força de intervenção que reconduziu o ex-presidente ao governo e expulsou os rebeldes da cidade, em fevereiro de 1998. Em dezembro do mesmo ano, os rebeldes, muitos dos quais são adolescentes, retomaram Freetown: somente na primeira quinzena de lutas, houve mais de 10 mil mortos. Em seguida, as forças governamentais conseguiram melhorar a própria situação, mas o caos continua.
De dia, predominam as forças do governo, à noite, os guerrilheiros adolescentes, nada tendo a perder a não ser a própria vida e liderados por guerrilheiros adultos, entregam-se à matança e ao estupro: decepam braços e pernas, cortam o ventre das grávidas, jogam as vítimas no mar ou abandonam os cadáveres nas ruas como alimento para os abutres. Não existe mais autoridade nesse país que segue a trajetória de outros países africanos, como Ruanda, Burundi e Angola, tristemente lembrados pela selvageria das matanças étnicas, e é difícil prever uma solução para o conflito. Os guerrilheiros reclamam a libertação de seu líder, mas o governo não parece disposto a ceder.
Idade da pedra, Na miséria, Serra Leoa vive guerra civil movida a contrabando de diamantes feita por rebeldes bandoleiros
“Oh, diamantes, diamantes, diamantes. Desde a guerra, todo mundo está ficando louco por causa dos diamantes. Você não pode imaginar a quantidade de propina que isso movimenta” (Yusef, personagem de The heart of the matter, de Graham Greene, romance ambientado em Serra Leoa)
Em Freetown, capital de Serra Leoa, o trabalho dos cirurgiões costuma ser mais estressante do que o da Força de Paz da ONU (Unamsil), que na semana passada teve quase 500 de seus soldados sequestrados por rebeldes da Frente Revolucionária Unida (FRU) e estava prestes a entrar em combate com o grupo. Os médicos têm que se desdobrar para amputar mãos, braços ou pernas de um número crescente de homens, mulheres e até crianças cujos membros foram parcialmente decepados a golpes de machado desfechados pelos “guerrilheiros” da FRU. É uma organização de rapina, chefiada por um ex-cabo do Exército e ex-cameraman, Foday Sankoh, que vive do contrabando de diamantes e fez da mutilação, sequestro e estupro de civis inocentes sua marca registrada. Num dos países mais miseráveis do mundo, um dos poucos cuja distribuição de renda é pior do que a do Brasil (leia gráfico), o contrabando de diamantes é o combustível de uma guerra civil que desde 1992 já matou milhares de pessoas e obrigou meio milhão de leoneses a abandonar o país.
Com o fim da Guerra Fria, o comércio ilegal de diamantes se tornou, em meados dos anos 90, uma grande fonte de recursos para Exércitos e guerrilhas numa área de guerras endêmicas da África ocidental, em países como Congo, Angola, Libéria e Serra Leoa. “Ninguém pode guerrear sem dinheiro, e diamantes aqui representam dinheiro”, resume o comprador Willy Kingombe Idi. De fato, naquela parte da África, o contrabando de diamantes vem exercendo um papel que em outras áreas de conflitos, como na América Latina e Ásia, costuma ser dominado pelo narcotráfico. Pesquisadores independentes, como a jornalista britânica Christine Gordon, acreditam que esse tráfico na África ocidental responde por 10% e 15% do total do comércio mundial de diamantes, que somente no ano passado movimentou nada menos que US$ 5 bilhões. A FRU controla hoje a maior parte das minas de diamantes localizadas na região Leste de Serra Leoa, obtendo lucros de milhões de dólares com a exportação ilegal, principalmente para a vizinha Libéria, liderada pelo ex-rebelde e atual presidente, Charles Taylor. Aliás, o crescimento da FRU coincide com a ascensão de Taylor na Libéria, eleito em 1997. Ele e Sankoh são velhos amigos: ambos receberam treinamento militar na Líbia, iniciaram rebeliões contra os governos de seus países no final dos anos 80 e se ajudaram militarmente. O governo liberiano nega o contrabando, mas, de acordo com dados do Higher Diamond Council, em Antuérpia (Bélgica), o valor das exportações de diamantes brutos de Serra Leoa caiu de US$ 66 milhões para US$ 31 milhões em 1999, ao mesmo tempo que as exportações da Libéria – que não produz diamantes – pularam de US$ 268 milhões para US$ 298 milhões. Estudos recentes indicam que Serra Leoa está perdendo anualmente entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões com o tráfico.
Segundo diplomatas e funcionários da ONU, os comandantes da FRU embolsam uma porcentagem das vendas de diamantes, mas grande parte do dinheiro é usada na compra de armas modernas. A organização Human Rights Watcht afirma que somente em março do ano passado 68 toneladas de armas provenientes da Ucrânia e de Burkina Faso foram entregues aos militantes da FRU. Mas o dinheiro dos diamantes também é utilizado para financiar a campanha eleitoral do líder Foday Sankoh – a eleição presidencial de Serra Leoa está prevista para o próximo ano. A principal razão para o recente recrudescimento do conflito foi a tentativa que a Força de Paz da ONU fez para retomar as áreas de produção de diamantes, conforme previa o acordo de paz assinado entre o governo e os rebeldes em julho do ano passado.
Aos 63 anos, o roliço Foday Sankoh – conhecido como “Papa” – comanda um exército que tem entre 10 mil e 15 mil homens, a maioria recrutada através do sequestro de jovens camponeses, muitos dos quais ainda são adolescentes. A organização foi formada em 1991 por ele e por um grupo de seguidores treinados na Líbia oriundos do movimento estudantil com o objetivo de lutar contra a corrupção institucionalizada do regime de partido único. Hoje, a FRU ainda abriga um minoritário grupo de idealistas pan-africanos, mas a maioria dos militantes, jovens empobrecidos, vê o movimento como simples meio de ganhar a vida. Apesar do discurso “esquerdista” de seu líder (“Os agentes do colonialismo chamados políticos fizeram nosso povo empobrecer. É por isso que nós estamos lutando”), a organização adota métodos da mais pura bandidagem, aterrorizando a população com mutilações, estupros, sequestros e assassinatos. Métodos que, diga-se de passagem, foram ensinados aos africanos no século passado pelo rei da Bélgica Leopoldo II no Congo Belga. Condenado à morte por traição em 1997, o carniceiro Sankoh não apenas foi anistiado com o acordo de paz de 1999 como ganhou o cargo de vice-presidente, e a FRU várias pastas no Ministério. Na segunda-feira 8, a guarda pessoal de Sankoh atacou a multidão que protestava em frente à sua casa em Freetown e matou oito manifestantes. O líder guerrilheiro não foi visto desde então. Seu desaparecimento aumentou os temores de que o infeliz país mergulhe mais uma vez num interminável banho de sangue.
“Oh, diamantes, diamantes, diamantes. Desde a guerra, todo mundo está ficando louco por causa dos diamantes. Você não pode imaginar a quantidade de propina que isso movimenta” (Yusef, personagem de The heart of the matter, de Graham Greene, romance ambientado em Serra Leoa)
Em Freetown, capital de Serra Leoa, o trabalho dos cirurgiões costuma ser mais estressante do que o da Força de Paz da ONU (Unamsil), que na semana passada teve quase 500 de seus soldados sequestrados por rebeldes da Frente Revolucionária Unida (FRU) e estava prestes a entrar em combate com o grupo. Os médicos têm que se desdobrar para amputar mãos, braços ou pernas de um número crescente de homens, mulheres e até crianças cujos membros foram parcialmente decepados a golpes de machado desfechados pelos “guerrilheiros” da FRU. É uma organização de rapina, chefiada por um ex-cabo do Exército e ex-cameraman, Foday Sankoh, que vive do contrabando de diamantes e fez da mutilação, sequestro e estupro de civis inocentes sua marca registrada. Num dos países mais miseráveis do mundo, um dos poucos cuja distribuição de renda é pior do que a do Brasil (leia gráfico), o contrabando de diamantes é o combustível de uma guerra civil que desde 1992 já matou milhares de pessoas e obrigou meio milhão de leoneses a abandonar o país.
Com o fim da Guerra Fria, o comércio ilegal de diamantes se tornou, em meados dos anos 90, uma grande fonte de recursos para Exércitos e guerrilhas numa área de guerras endêmicas da África ocidental, em países como Congo, Angola, Libéria e Serra Leoa. “Ninguém pode guerrear sem dinheiro, e diamantes aqui representam dinheiro”, resume o comprador Willy Kingombe Idi. De fato, naquela parte da África, o contrabando de diamantes vem exercendo um papel que em outras áreas de conflitos, como na América Latina e Ásia, costuma ser dominado pelo narcotráfico. Pesquisadores independentes, como a jornalista britânica Christine Gordon, acreditam que esse tráfico na África ocidental responde por 10% e 15% do total do comércio mundial de diamantes, que somente no ano passado movimentou nada menos que US$ 5 bilhões. A FRU controla hoje a maior parte das minas de diamantes localizadas na região Leste de Serra Leoa, obtendo lucros de milhões de dólares com a exportação ilegal, principalmente para a vizinha Libéria, liderada pelo ex-rebelde e atual presidente, Charles Taylor. Aliás, o crescimento da FRU coincide com a ascensão de Taylor na Libéria, eleito em 1997. Ele e Sankoh são velhos amigos: ambos receberam treinamento militar na Líbia, iniciaram rebeliões contra os governos de seus países no final dos anos 80 e se ajudaram militarmente. O governo liberiano nega o contrabando, mas, de acordo com dados do Higher Diamond Council, em Antuérpia (Bélgica), o valor das exportações de diamantes brutos de Serra Leoa caiu de US$ 66 milhões para US$ 31 milhões em 1999, ao mesmo tempo que as exportações da Libéria – que não produz diamantes – pularam de US$ 268 milhões para US$ 298 milhões. Estudos recentes indicam que Serra Leoa está perdendo anualmente entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões com o tráfico.
Segundo diplomatas e funcionários da ONU, os comandantes da FRU embolsam uma porcentagem das vendas de diamantes, mas grande parte do dinheiro é usada na compra de armas modernas. A organização Human Rights Watcht afirma que somente em março do ano passado 68 toneladas de armas provenientes da Ucrânia e de Burkina Faso foram entregues aos militantes da FRU. Mas o dinheiro dos diamantes também é utilizado para financiar a campanha eleitoral do líder Foday Sankoh – a eleição presidencial de Serra Leoa está prevista para o próximo ano. A principal razão para o recente recrudescimento do conflito foi a tentativa que a Força de Paz da ONU fez para retomar as áreas de produção de diamantes, conforme previa o acordo de paz assinado entre o governo e os rebeldes em julho do ano passado.
Aos 63 anos, o roliço Foday Sankoh – conhecido como “Papa” – comanda um exército que tem entre 10 mil e 15 mil homens, a maioria recrutada através do sequestro de jovens camponeses, muitos dos quais ainda são adolescentes. A organização foi formada em 1991 por ele e por um grupo de seguidores treinados na Líbia oriundos do movimento estudantil com o objetivo de lutar contra a corrupção institucionalizada do regime de partido único. Hoje, a FRU ainda abriga um minoritário grupo de idealistas pan-africanos, mas a maioria dos militantes, jovens empobrecidos, vê o movimento como simples meio de ganhar a vida. Apesar do discurso “esquerdista” de seu líder (“Os agentes do colonialismo chamados políticos fizeram nosso povo empobrecer. É por isso que nós estamos lutando”), a organização adota métodos da mais pura bandidagem, aterrorizando a população com mutilações, estupros, sequestros e assassinatos. Métodos que, diga-se de passagem, foram ensinados aos africanos no século passado pelo rei da Bélgica Leopoldo II no Congo Belga. Condenado à morte por traição em 1997, o carniceiro Sankoh não apenas foi anistiado com o acordo de paz de 1999 como ganhou o cargo de vice-presidente, e a FRU várias pastas no Ministério. Na segunda-feira 8, a guarda pessoal de Sankoh atacou a multidão que protestava em frente à sua casa em Freetown e matou oito manifestantes. O líder guerrilheiro não foi visto desde então. Seu desaparecimento aumentou os temores de que o infeliz país mergulhe mais uma vez num interminável banho de sangue.
6 comentários:
Muito bom. Eu estava precisando disso!
eu precisando disso
muito bom
valeu.........
enquanto quer as madames da alta sociedade ficam desfilando com os seus cachorrinhos de estimação pelas ruas da Europa com pedras de diamate no pescoço,varias pessoas em Serra Leoa estão morrendo por causa desta maldita pedra.
é verdade (22 de junho) acho a mesma coisa :\ MADAMES que não pensam o que houve por trás da pedra, iclusive eu queria recomendar o filme diamante de sangue FALA SOBRE TUDO , TUDO ISSO :8
VEJAM "DIAMANTE DE SANGUE" MT BOM E FALA SOBRE ESSE ASSUNTO
BEIJOCAS!
VEJAM "DIAMANTE DE SANGUE" É MT BOM FALA SOBRE ISSO BJS ABRÇOS AMO VCS TCHAU
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