O Mapa acima, se refere ao PERU, país da América do Sul, localizado na Cordilheira dos Andes, onde dois grupos Guerrilheiros atuaram, ou atuam, O SENDERO LUMINOSO, E O MOVIMENTO GUERRILHEIRO TUPAC AMARU !
O Sendero Luminoso (SL) surgiu em 1964 como uma dissidência (bandera roja, bandeira vermelha) do Partido Comunista do Peru (PCP), sob orientação do carismático professor Abimael Guzmán (conhecido por sua capacidade de engajar os alunos).
O nome Sendero Luminoso baseia-se em uma máxima do marxista peruano José Carlos Mariátegui: "El Marxismo-Leninismo abrirá el sendero luminoso hacia la revolución" ("O Marxismo-Leninismo abrirá o caminho iluminado para a revolução"). Esta citação era usada no cabeçalho do jornal do grupo e no Peru os diversos partidos comunistas são diferenciados pelo título de suas publicações. Os historiadores e estudiosos em geral normalmente se referem ao Sendero Luminoso como PCP-SL.
Na década de 1970 o SL expandiu suas atividades, inicialmente restritas às universidades da província de Ayacucho, para outras universidades no Peru, ganhando força como movimento estudantil. Seguia a linha de outros movimentos revolucionários de então, ou seja: grupos estudantis de classe média ou média-baixa tentando estabelecer a revolução em bases camponesas. (O exemplo mais destacada é o da revolução cubana; no Brasil desenvolvia-se algo semelhante, na chamada guerrilha do Araguaia). Após algum tempo o movimento, no entanto, tentou abandonar suas raízes na universidade e proclamou-se um "partido em reconstrução".
Em 1977 o SL passou da guerrilha rural para a urbana. Nas eleições de 1980, as primeiras após 12 anos de governo militar, o partido recusou-se a participar e promoveu ataques e o boicote às seções eleitorais. Em maio daquele ano chegou mesmo a esboçar o começo de uma revolução efetiva. Na década de 1980 o grupo cresceu bastante, tanto em membros quanto em área ocupada. Suas áreas de dominação eram o centro e o sul do Peru, além de ter presença também nos subúrbios de Lima.
Com a captura de Guzmán em 1992 e demais lideranças até 1995, o Sendero perdeu muito da sua força. Chegou mesmo a enfrentar milícias de camponeses, aos quais supostamente representava. Suas ações passaram a ficar mais espaçadas, sendo as últimas delas um ataque a bomba contra a embaixada estadunidense em Lima (foram mortas 10 pessoas e 30 ficaram feridas) em 2002 e o seqüestro de funcionários argentinos que trabalhavam em um gasoduto em Ayacucho (foram libertados após resgate), em junho de 2003.
Para uma história mais romântica, procure pelo livro " Dança no Andar de Cima" que conta a história de Abimael Guzman, por seu perseguidor.
ASCENSÃO E QUEDA DE UM GRUPO GUERRILHEIRO !
A recente queda de Alberto Fujimori da presidência do Peru e a eleição de Alejandro Toledo trouxe de volta às manchetes um nome que causava calafrios em muitas pessoas que acompanhavam o noticiário internacional nos anos 80 e que desapareceu na última década: Sendero Luminoso. Fujimori (e seu assecla Montesinos) proclamam que um dos méritos de seu governo foi a derrota desse grupo, o que é negado por seus opositores. A importância desse grupo na história do Peru e as razões de sua ascensão e queda merecem alguma atenção e reflexão de nossa parte, por indicarem caminhos e problemas da história recente da América Latina, nem de longe limitados ao Peru.
O Sendero Luminoso não era o único grupo em atuação no Peru nas últimas décadas. Havia também, por exemplo, o Puka Llacta (Pátria Vermelha) e o Tupac Amaru, ligados a grupos urbanos e mesmo a correntes políticas e militares mais à esquerda. O Sendero, contudo, foi o mais importante e o que mais chama a atenção.
A origem desse movimento deve ser buscada no XX Congresso do PCUS em 1956. Este Congresso, ao denunciar o estalinismo, causou uma divisão na esquerda em todo o mundo. O Peru não foi exceção: em 1964, ocorreram fraturas no Partido Comunista do Peru e, entre legendas e sublegendas em choque, desenvolveu-se um grupo que defendia a tese do caráter semifeudal e semicolonial do Peru e a necessidade da revolução comunista caminhar do campo para a cidade, numa clara inspiração na revolução chinesa de Mao Tsé Tung. Nascia o Sendero Luminoso.
Nos anos 70, Abimael Guzman, líder desse grupo, concentrou seus esforços em organizar seus quadros e fazer um trabalho de doutrinação em Ayacucho, região miserável onde Guzman era professor de filosofia e que ele via como o lugar ideal para fazer a pregação de suas idéias. Em 1980, finalmente, o Sendero Luminoso iniciou sua luta armada, também em Ayacucho.
No decorrer dos anos 80, a guerrilha do Sendero cresceu, se espalhando por todo o país e engajando as próprias Forças Armadas na sua repressão. Eles se espalharam pela selva e pelas periferias das cidades, e a luta foi intensa por longos anos, com enormes violações dos direitos humanos e grande número de mortes de lado a lado.
Para o Sendero, o Estado peruano seria uma ditadura de latifundiários feudais e grandes burgueses apoiados pelo imperialismo norte-americano. Esse Estado se sustentaria pela violência. Frente a esta, o povo, organizado em torno do Sendero, deveria responder na mesma moeda, através da violência revolucionária, prosseguindo no objetivo de cercar as cidades a partir do campo. Para eles, eleições seriam apenas uma ilusão, a serem ignoradas na busca de mudanças.
Dentro dessa visão senderista (a qual é claramente influenciada pelo maoísmo, obviamente reinterpretado a partir da situação peruana), portanto, a violência armada é o único caminho para a revolução e também para mudar efetivamente a ordem social do país quando e se o poder fosse conquistado. Cálculos do próprio movimento nos anos 80 estimavam em 1 milhão o número de pessoas que deveriam morrer para a consolidação do novo Estado e a mudança dos padrões da sociedade. Feito isto, mais um passo teria sido dado para a quebra da ordem capitalista, com a quarta espada, a de Guzman, se reunindo as de Marx, Lenin e Mao no caminho da Revolução Mundial.
Essa visão de violência como solução para os problemas estava presente não apenas nas palavras, mas também nos atos do Sendero: eram contínuas as denúncias de massacres de camponeses e opositores, de julgamentos sumários, etc. Sendo realmente assim, poderíamos nos perguntar de onde vinha a força do movimento. Como é possível que ele tenha quase chegado ao controle do Estado lutando contra todo o poder das forças armadas do Peru enquanto tratava a população civil com tamanha brutalidade?
A questão é realmente intrigante. Como um movimento extremamente violento, repudiado pela esquerda tradicional e incompreensível para grande parte da intelectualidade peruana conseguia apoio popular?
O primeiro elemento a ser levado em conta para explicar isso é o fato do Sendero Luminoso procurar se integrar à vida dos camponeses pobres. Ao contrário dos políticos tradicionais, fazendo seus discursos em espanhol sobre democracia, parlamentos e outras questões longe do cotidiano dos camponeses, o Sendero fazia sua propaganda em idioma indígena e oferecia soluções práticas para o dia a dia de muitos peruanos: aplicação sumária da justiça, com a eliminação de elementos anti sociais (como estupradores e ladrões), repartição de bens, etc. Além disso, o Sendero Luminoso tinha uma política de respeito aos camponeses que era inovadora em termos de uma sociedade racista e desigual como a peruana. O Manual do Sendero Luminoso dava, por exemplo, algumas regras chaves para os guerrilheiros: obedecer em todas as ações, entregar o objeto capturado, não maltratar os prisioneiros, não estragar as plantações, respeitar as massas, não tomar nem uma agulha das pessoas, falar com cortesia. Evidentemente, essas regras não se aplicavam aos que, claramente, se opunham ao movimento, que eram tratados então com extrema brutalidade.
Um outro elo de ligação do Sendero com as massas camponesas era a sua apropriação das lendas e da mitologia indígena. O movimento se apresentava, ao menos aos olhos dos camponeses, como a reedição do Império Inca, pronto a destruir o Império dos brancos e aproveitava todas as oportunidades de reforçar essa imagem. As mortes de delatores, por exemplo, eram anunciadas por um cadáver de cachorro. Algo aparentemente absurdo, mas que passa a fazer sentido se nos recordarmos que, na cultura inca, os mortos deviam ser enterrados com seus cachorros.
A forma de luta do Sendero e sua ligação com as massas camponesas e das periferias das grandes cidades peruanas poderia ser, portanto, algo totalmente incompreensível para nós, mas fazia algum sentido para ao menos parte da população peruana. Evidentemente, isso não significa dizer que todo camponês ou indígena era um senderista, mas essa combinação de violência extrema e uma proposta com algum apelo popular conseguiu fazer do Sendero Luminoso um sério candidato ao poder no Peru do início dos anos 90.
No entanto, a própria violência do movimento conseguiu alienar a maioria dessas pessoas que podiam ver algum sentido naquelas propostas. Para completar, o governo Fujimori decidiu abandonar quaisquer regras e abriu uma verdadeira “guerra suja” contra a guerrilha e seus adeptos ou simpatizantes. Uma avaliação do quanto sangue correu durante essa “guerra suja” (e de quantos civis e inocentes pagaram o preço por ela) é algo que ainda vai ocupar tempo e energia da sociedade peruana por alguns anos. Mas é possível reconhecer que essa repressão maciça ajudou a eliminar a força da guerrilha (já abalada, sem dúvida, por seus próprios erros e problemas). Também a hipótese da ligação do fujimorismo com os traficantes de cocaína ter eliminado uma das fontes de sustento financeiro da guerrilha não deve ser descartada para explicar sua decadência. De qualquer forma, o Sendero Luminoso hoje é uma sombra do que foi e poderíamos considerá-lo uma página virada da História. No entanto, sua derrota final ainda não foi decretada e talvez possamos aprender algo mesmo se nos restringirmos aos acontecimentos até o presente momento.
Várias questões maiores emergem, realmente, da experiência do Sendero Luminoso. Uma delas é sobre a singularidade peruana. Algumas pessoas dizem que, na Colômbia, por exemplo, uma explicação para as guerrilhas que varrem o país há décadas deve ser buscada na distribuição homogênea de população (e poder) pelo seu território, levando a um Estado central fraco e incapaz de reprimir adequadamente os descontentes. E para o Peru? Talvez uma especificidade peruana que explique a existência do Sendero Luminoso tenha sido a existência de um líder como Guzman e de uma população de origem indígena capaz, como visto, de ver algum sentido nas suas propostas. Mas por que a situação não se repetiu, então, na Bolívia ou Equador, onde os indígenas também são maioria? Isso para não falar do caso brasileiro, onde não conseguimos encontrar uma explicação convincente do porquê de não termos tido movimentos guerrilheiros de importância nos anos 60 e 70. Estado centralizado, ausência de população indígena, erros da esquerda? Não temos uma resposta clara, mas são questões que merecem alguma reflexão para entendermos as enormes particularidades dos países da América Latina.
Questões mais gerais também emergem. Quando o Estado democrático (ainda que democrático apenas na forma) se vê em ameaça por uma força que deseja ostensivamente eliminá-lo, ele tem o direito de reagir, mas devem haver limites para sua reação? Provavelmente, mas e se esses limites realmente tornarem impossível a preservação do Estado de direito frente a seus inimigos? Mas valeria a pena preservá-lo usando os mesmos instrumentos dos que querem destruí-lo ou para manter apenas uma “casca” democrática encobrindo uma sociedade corrupta e desigual? E será que a repressão total e aberta é o único caminho para resolver impasses como este? São pontos a discutir, evidentemente, mas o fato de Vladimiro Montesinos estar preso, agora, na mesma prisão que ele mandou construir para abrigar os líderes do Sendero Luminoso e a enorme satisfação que essa ironia da História dá ao autor indica um pouco nossas opiniões a respeito.
MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO TUPÁC AMARU
O Sendero Luminoso (em português sendeiro luminoso ou iluminado) é uma organização de inspiração maoísta fundada na década de 1960 pelos corpos discentes e docentes de universidades do Peru (especialmente da província de Ayacucho). Abimael Guzmán (professor de Filosofia da Universidade Nacional de San Cristóbal de Huamanga) é considerado seu fundador por excelência, e adota o codinome Presidente Gonzalo.
O Sendero Luminoso é considerado o maior movimento revolucionário do Peru, e está entre os dois maiores grupos de ação da América do Sul (ao lado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC). O seu nome oficial é Partido Comunista do Peru (PCP), porém o nome Sendero Luminoso é mais popular por diferenciar o grupo dos diversos partidos comunistas no Peru. O seu objetivo era o de superar as instituições burguesas peruanas por meio de um regime revolucionário e comunista de base camponesa, utilizando-se do conceito maoísta de Nova Democracia. Desde a captura de seu líder, Abimael Guzmán em 12 de setembro de 1992, o Sendero Luminoso teve apenas atuações esporádicas[1]. A ideologia e as táticas do Sendero Luminoso influenciaram outros grupos insurgentes de caráter maoísta como o Partido Comunista do Nepal (maoísta) e outras organizações associadas ao Movimento Revolucionário Internacional.
Após a prisão de Guzmán, vários líderes do Sendero também foram detidos nos anos seguintes, o que diminuiu bastante as atividades do grupo. Estas incluem principalmente ataques com bombas, além de assassinatos e possivelmente envolvimento com o comércio de pasta de coca. Degladiaram-se com os militares peruanos e grupos paramilitares supostamente treinados pelo Estados Unidos, os Sinchis. Além disso, opõe-se a outra grande força revolucionária do Peru, o Movimento Revolucionário Tupac Amaru.
Estima-se que o Sendero Luminoso tenha cerca de dois mil guerrilheiros, e um grande número de membros em outras funções. O grupo é responsável pela morte de aproximadamente 31.000 pessoas, entre civis, camponeses, militares, e militantes de esquerda rivais.
O Sendero Luminoso é considerado o maior movimento revolucionário do Peru, e está entre os dois maiores grupos de ação da América do Sul (ao lado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC). O seu nome oficial é Partido Comunista do Peru (PCP), porém o nome Sendero Luminoso é mais popular por diferenciar o grupo dos diversos partidos comunistas no Peru. O seu objetivo era o de superar as instituições burguesas peruanas por meio de um regime revolucionário e comunista de base camponesa, utilizando-se do conceito maoísta de Nova Democracia. Desde a captura de seu líder, Abimael Guzmán em 12 de setembro de 1992, o Sendero Luminoso teve apenas atuações esporádicas[1]. A ideologia e as táticas do Sendero Luminoso influenciaram outros grupos insurgentes de caráter maoísta como o Partido Comunista do Nepal (maoísta) e outras organizações associadas ao Movimento Revolucionário Internacional.
Após a prisão de Guzmán, vários líderes do Sendero também foram detidos nos anos seguintes, o que diminuiu bastante as atividades do grupo. Estas incluem principalmente ataques com bombas, além de assassinatos e possivelmente envolvimento com o comércio de pasta de coca. Degladiaram-se com os militares peruanos e grupos paramilitares supostamente treinados pelo Estados Unidos, os Sinchis. Além disso, opõe-se a outra grande força revolucionária do Peru, o Movimento Revolucionário Tupac Amaru.
Estima-se que o Sendero Luminoso tenha cerca de dois mil guerrilheiros, e um grande número de membros em outras funções. O grupo é responsável pela morte de aproximadamente 31.000 pessoas, entre civis, camponeses, militares, e militantes de esquerda rivais.
O Sendero Luminoso (SL) surgiu em 1964 como uma dissidência (bandera roja, bandeira vermelha) do Partido Comunista do Peru (PCP), sob orientação do carismático professor Abimael Guzmán (conhecido por sua capacidade de engajar os alunos).
O nome Sendero Luminoso baseia-se em uma máxima do marxista peruano José Carlos Mariátegui: "El Marxismo-Leninismo abrirá el sendero luminoso hacia la revolución" ("O Marxismo-Leninismo abrirá o caminho iluminado para a revolução"). Esta citação era usada no cabeçalho do jornal do grupo e no Peru os diversos partidos comunistas são diferenciados pelo título de suas publicações. Os historiadores e estudiosos em geral normalmente se referem ao Sendero Luminoso como PCP-SL.
Na década de 1970 o SL expandiu suas atividades, inicialmente restritas às universidades da província de Ayacucho, para outras universidades no Peru, ganhando força como movimento estudantil. Seguia a linha de outros movimentos revolucionários de então, ou seja: grupos estudantis de classe média ou média-baixa tentando estabelecer a revolução em bases camponesas. (O exemplo mais destacada é o da revolução cubana; no Brasil desenvolvia-se algo semelhante, na chamada guerrilha do Araguaia). Após algum tempo o movimento, no entanto, tentou abandonar suas raízes na universidade e proclamou-se um "partido em reconstrução".
Em 1977 o SL passou da guerrilha rural para a urbana. Nas eleições de 1980, as primeiras após 12 anos de governo militar, o partido recusou-se a participar e promoveu ataques e o boicote às seções eleitorais. Em maio daquele ano chegou mesmo a esboçar o começo de uma revolução efetiva. Na década de 1980 o grupo cresceu bastante, tanto em membros quanto em área ocupada. Suas áreas de dominação eram o centro e o sul do Peru, além de ter presença também nos subúrbios de Lima.
Com a captura de Guzmán em 1992 e demais lideranças até 1995, o Sendero perdeu muito da sua força. Chegou mesmo a enfrentar milícias de camponeses, aos quais supostamente representava. Suas ações passaram a ficar mais espaçadas, sendo as últimas delas um ataque a bomba contra a embaixada estadunidense em Lima (foram mortas 10 pessoas e 30 ficaram feridas) em 2002 e o seqüestro de funcionários argentinos que trabalhavam em um gasoduto em Ayacucho (foram libertados após resgate), em junho de 2003.
Para uma história mais romântica, procure pelo livro " Dança no Andar de Cima" que conta a história de Abimael Guzman, por seu perseguidor.
ASCENSÃO E QUEDA DE UM GRUPO GUERRILHEIRO !
A recente queda de Alberto Fujimori da presidência do Peru e a eleição de Alejandro Toledo trouxe de volta às manchetes um nome que causava calafrios em muitas pessoas que acompanhavam o noticiário internacional nos anos 80 e que desapareceu na última década: Sendero Luminoso. Fujimori (e seu assecla Montesinos) proclamam que um dos méritos de seu governo foi a derrota desse grupo, o que é negado por seus opositores. A importância desse grupo na história do Peru e as razões de sua ascensão e queda merecem alguma atenção e reflexão de nossa parte, por indicarem caminhos e problemas da história recente da América Latina, nem de longe limitados ao Peru.
O Sendero Luminoso não era o único grupo em atuação no Peru nas últimas décadas. Havia também, por exemplo, o Puka Llacta (Pátria Vermelha) e o Tupac Amaru, ligados a grupos urbanos e mesmo a correntes políticas e militares mais à esquerda. O Sendero, contudo, foi o mais importante e o que mais chama a atenção.
A origem desse movimento deve ser buscada no XX Congresso do PCUS em 1956. Este Congresso, ao denunciar o estalinismo, causou uma divisão na esquerda em todo o mundo. O Peru não foi exceção: em 1964, ocorreram fraturas no Partido Comunista do Peru e, entre legendas e sublegendas em choque, desenvolveu-se um grupo que defendia a tese do caráter semifeudal e semicolonial do Peru e a necessidade da revolução comunista caminhar do campo para a cidade, numa clara inspiração na revolução chinesa de Mao Tsé Tung. Nascia o Sendero Luminoso.
Nos anos 70, Abimael Guzman, líder desse grupo, concentrou seus esforços em organizar seus quadros e fazer um trabalho de doutrinação em Ayacucho, região miserável onde Guzman era professor de filosofia e que ele via como o lugar ideal para fazer a pregação de suas idéias. Em 1980, finalmente, o Sendero Luminoso iniciou sua luta armada, também em Ayacucho.
No decorrer dos anos 80, a guerrilha do Sendero cresceu, se espalhando por todo o país e engajando as próprias Forças Armadas na sua repressão. Eles se espalharam pela selva e pelas periferias das cidades, e a luta foi intensa por longos anos, com enormes violações dos direitos humanos e grande número de mortes de lado a lado.
Para o Sendero, o Estado peruano seria uma ditadura de latifundiários feudais e grandes burgueses apoiados pelo imperialismo norte-americano. Esse Estado se sustentaria pela violência. Frente a esta, o povo, organizado em torno do Sendero, deveria responder na mesma moeda, através da violência revolucionária, prosseguindo no objetivo de cercar as cidades a partir do campo. Para eles, eleições seriam apenas uma ilusão, a serem ignoradas na busca de mudanças.
Dentro dessa visão senderista (a qual é claramente influenciada pelo maoísmo, obviamente reinterpretado a partir da situação peruana), portanto, a violência armada é o único caminho para a revolução e também para mudar efetivamente a ordem social do país quando e se o poder fosse conquistado. Cálculos do próprio movimento nos anos 80 estimavam em 1 milhão o número de pessoas que deveriam morrer para a consolidação do novo Estado e a mudança dos padrões da sociedade. Feito isto, mais um passo teria sido dado para a quebra da ordem capitalista, com a quarta espada, a de Guzman, se reunindo as de Marx, Lenin e Mao no caminho da Revolução Mundial.
Essa visão de violência como solução para os problemas estava presente não apenas nas palavras, mas também nos atos do Sendero: eram contínuas as denúncias de massacres de camponeses e opositores, de julgamentos sumários, etc. Sendo realmente assim, poderíamos nos perguntar de onde vinha a força do movimento. Como é possível que ele tenha quase chegado ao controle do Estado lutando contra todo o poder das forças armadas do Peru enquanto tratava a população civil com tamanha brutalidade?
A questão é realmente intrigante. Como um movimento extremamente violento, repudiado pela esquerda tradicional e incompreensível para grande parte da intelectualidade peruana conseguia apoio popular?
O primeiro elemento a ser levado em conta para explicar isso é o fato do Sendero Luminoso procurar se integrar à vida dos camponeses pobres. Ao contrário dos políticos tradicionais, fazendo seus discursos em espanhol sobre democracia, parlamentos e outras questões longe do cotidiano dos camponeses, o Sendero fazia sua propaganda em idioma indígena e oferecia soluções práticas para o dia a dia de muitos peruanos: aplicação sumária da justiça, com a eliminação de elementos anti sociais (como estupradores e ladrões), repartição de bens, etc. Além disso, o Sendero Luminoso tinha uma política de respeito aos camponeses que era inovadora em termos de uma sociedade racista e desigual como a peruana. O Manual do Sendero Luminoso dava, por exemplo, algumas regras chaves para os guerrilheiros: obedecer em todas as ações, entregar o objeto capturado, não maltratar os prisioneiros, não estragar as plantações, respeitar as massas, não tomar nem uma agulha das pessoas, falar com cortesia. Evidentemente, essas regras não se aplicavam aos que, claramente, se opunham ao movimento, que eram tratados então com extrema brutalidade.
Um outro elo de ligação do Sendero com as massas camponesas era a sua apropriação das lendas e da mitologia indígena. O movimento se apresentava, ao menos aos olhos dos camponeses, como a reedição do Império Inca, pronto a destruir o Império dos brancos e aproveitava todas as oportunidades de reforçar essa imagem. As mortes de delatores, por exemplo, eram anunciadas por um cadáver de cachorro. Algo aparentemente absurdo, mas que passa a fazer sentido se nos recordarmos que, na cultura inca, os mortos deviam ser enterrados com seus cachorros.
A forma de luta do Sendero e sua ligação com as massas camponesas e das periferias das grandes cidades peruanas poderia ser, portanto, algo totalmente incompreensível para nós, mas fazia algum sentido para ao menos parte da população peruana. Evidentemente, isso não significa dizer que todo camponês ou indígena era um senderista, mas essa combinação de violência extrema e uma proposta com algum apelo popular conseguiu fazer do Sendero Luminoso um sério candidato ao poder no Peru do início dos anos 90.
No entanto, a própria violência do movimento conseguiu alienar a maioria dessas pessoas que podiam ver algum sentido naquelas propostas. Para completar, o governo Fujimori decidiu abandonar quaisquer regras e abriu uma verdadeira “guerra suja” contra a guerrilha e seus adeptos ou simpatizantes. Uma avaliação do quanto sangue correu durante essa “guerra suja” (e de quantos civis e inocentes pagaram o preço por ela) é algo que ainda vai ocupar tempo e energia da sociedade peruana por alguns anos. Mas é possível reconhecer que essa repressão maciça ajudou a eliminar a força da guerrilha (já abalada, sem dúvida, por seus próprios erros e problemas). Também a hipótese da ligação do fujimorismo com os traficantes de cocaína ter eliminado uma das fontes de sustento financeiro da guerrilha não deve ser descartada para explicar sua decadência. De qualquer forma, o Sendero Luminoso hoje é uma sombra do que foi e poderíamos considerá-lo uma página virada da História. No entanto, sua derrota final ainda não foi decretada e talvez possamos aprender algo mesmo se nos restringirmos aos acontecimentos até o presente momento.
Várias questões maiores emergem, realmente, da experiência do Sendero Luminoso. Uma delas é sobre a singularidade peruana. Algumas pessoas dizem que, na Colômbia, por exemplo, uma explicação para as guerrilhas que varrem o país há décadas deve ser buscada na distribuição homogênea de população (e poder) pelo seu território, levando a um Estado central fraco e incapaz de reprimir adequadamente os descontentes. E para o Peru? Talvez uma especificidade peruana que explique a existência do Sendero Luminoso tenha sido a existência de um líder como Guzman e de uma população de origem indígena capaz, como visto, de ver algum sentido nas suas propostas. Mas por que a situação não se repetiu, então, na Bolívia ou Equador, onde os indígenas também são maioria? Isso para não falar do caso brasileiro, onde não conseguimos encontrar uma explicação convincente do porquê de não termos tido movimentos guerrilheiros de importância nos anos 60 e 70. Estado centralizado, ausência de população indígena, erros da esquerda? Não temos uma resposta clara, mas são questões que merecem alguma reflexão para entendermos as enormes particularidades dos países da América Latina.
Questões mais gerais também emergem. Quando o Estado democrático (ainda que democrático apenas na forma) se vê em ameaça por uma força que deseja ostensivamente eliminá-lo, ele tem o direito de reagir, mas devem haver limites para sua reação? Provavelmente, mas e se esses limites realmente tornarem impossível a preservação do Estado de direito frente a seus inimigos? Mas valeria a pena preservá-lo usando os mesmos instrumentos dos que querem destruí-lo ou para manter apenas uma “casca” democrática encobrindo uma sociedade corrupta e desigual? E será que a repressão total e aberta é o único caminho para resolver impasses como este? São pontos a discutir, evidentemente, mas o fato de Vladimiro Montesinos estar preso, agora, na mesma prisão que ele mandou construir para abrigar os líderes do Sendero Luminoso e a enorme satisfação que essa ironia da História dá ao autor indica um pouco nossas opiniões a respeito.
MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO TUPÁC AMARU
O grupo guerrilheiro Túpac Amaru, se define como uma organização político-militar, integrada pela classe operária, pelos explorados e oprimidos do Perú, cuja a ideologia é o Marxismo-Leninismo, tendo como objetivo organizar e dirigir a "Guerra Revolucionária do Povo", para derrotar o Governo legal, estabelecendo um "Poder Popular", que conduza à edificação do Socialismo. O embrião d esta organização teve seu início em 23 de novembro de 1976, quando o general do Exército Peruano, Leonidas Rodríguez Figueroa (que se encontrava exilado) funda o Partido Socialista Revolucionário (PSR), agrupando n esta organização, entre outros, ex-colaboradores do governo do general Juan Velasco Alvarado. O PSR participa do processo eleitoral para a Assembléia Constituinte, mas problemas ocorrem perante este acontecimento de "atitude eleitoreira" produzindo um rompimento em seu interior, dando origem ao PSR-ML (Partido Socialista Revolcuionário - Marxista Leninista) com dirigentes da cúpula e incluso três constituintes, organização que logo seria uma das vertentes que dariam origem ao MRTA. O MIR-VR (Movimiento de Izquierda Revolucionario - Voz Rebelde), o MIR -Norte (chamado assim por ter sua base principal em Trujillo) e o MIR-EM (Movimiento de Izquierda Revolucionario - El Militante), surgem em 1973, logo após o rompimento do MIR - Histórico. Em 1977, constituem, juntamente com outros agrupamentos de esquerda, a UDP (Unidade Democrática Popular). Em setembro de 1980, participam da constitução da Izquierda Unida (IU), produzindo-se lutas internas em 1982, recompondo-se entre os anos de 1983 e 1984. Em 1978, o MIR-EM, participa do processo eleitoral para a Assembléia Constituinte, retirando-se para formar com o PSR-ML, o PCP -Maioria, a denominada "Frente Revolucionária de Ação Socialista" (FRAS). Em 01 de março de 1982, essa Unidade adota o nome de "Movimento Revolucionário Túpac Amaru", adotando a sigla "MRTA". A organização se manteve na clandestinidade, iniciando suas primeiras ações em 1984, consistindo em expropriações de bancos e ataques a militares. Em 09 de dezembro de 1986, se constitui uma nova unidade, no evento denominado "I Comitê Central Unitário", entre o MRTA e o MIR-VR, concordando em manter o nome do MRTA, com o qual continuaram as ações revolucionárias. Seu órgão de divulgação clandestino era o impresso entitulado "Venceremos", que em 1987 mudou para "Voz Rebelde" e também a rádio "4 de Noviembro". Ademais, contava com o semanário "Cambio" como meio de difusão aberto e como órgãos de fachada tinham as organizações "Pueblo en Marcha", "UDP", "Bloque Popular Revolucionario" e "Patria Libre". O grupo tornou-se mundialmente famoso com a ocupação da embaixada japonesa em Lima (Dezembro de 1996-Abril de 1997), em que reteram centenas de importantes políticos. Os 14 membros do comando foram mortos pela polícia peruana do presidente Fujimori; todos os políticos retidos foram libertados. Na atualidade o nível de direção, devido à captura de seus principais líderes, não conta com uma estrutura de apoio ou estrutura organizativa (aparato logístico, comunicações, imprensa, etc.) e sua força especial (aparato armado) tem sido desarticulada. Não existindo indicativos da presença do MRTA no âmbito peruano, a provável reorganização está sendo estruturada no estrangeiro (Alemanha), através de seu porta-voz internacional, Isaac Cecilio Velasco Fuerte, que emite através da Internet eventuais pronunciamentos.
NOTÍCIAS RECENTES SOBRE O TEMA
NOTÍCIAS RECENTES SOBRE O TEMA
Caso de Fujimori expõe feridas abertas do Peru, 05/09/2008 às 09:07
As feridas da guerra civil que sacudiu o Peru entre 1980 e 2000 não se fecharam por completo entre os seguidores do ex-presidente Alberto Fujimori, que invadiram com violência a celebração do quinto aniversário da apresentação do Relatório Final da Comissão da Verdade e da Reconciliação (CVR). Os partidários de Fujimori culpam os membros da comissão pelo julgamento a que o ex-presidente está sendo submetido desde o ano passado - acusado de violações dos direitos humanos - o qual poderia condenar-lhe a uma sentença de 30 anos de prisão, determinando, portanto, que o ex-chefe de Estado (1990-2000), já com 70 anos, termine seus dias atrás das grades. Na celebração convocada pela coordenadoria peruana de Direitos Humanos em uma praça de Lima onde se encontra o "Olho que Chora" - monumento realizado pela escultura holandesa Lika Mutal - o objetivo era prestar uma homenagem às vítimas da violência com a apresentação de grupos de teatro, como o Yuyachkani, e com o semeio de flores coloridas. Durante o discurso do ex-presidente da CRV, Salomón Lerner, os partidários de Fujimori, vestindo camisetas com o rosto do presidente, rodearam o parque e entraram no jardim onde foram semeadas as plantas com os nomes das vítimas, portando cartazes que diziam "quanto cobraram, vendidos" e que o ex-mandatário "salvou o país", além de "viva as forças armadas". A violenta invasão causou uma briga com os policiais e os espectadores que assistiam a homenagem. Isso demonstrou que o julgamento de Fujimori mantém acesas as rixas entre os peruanos e a divisão entre os que apóiam ou não o relatório final da CVR, no qual o ex-presidente é apontado como responsável por violações dos direitos humanos durante o combate ao terrorismo. O presidente da Coordenação Peruana de Direitos Humanos, Ronald Gamarra, disse que "os manifestantes demonstram que estão órfãos de argumentos no julgamento de Fujimori e vêm demonstrar sua contrariedade, da única maneira que conhecem, a violenta". "Com este ato não está se agredindo apenas algumas vítimas, se está agredindo a todas. A única maneira de responder essas agressões é com a verdade", acrescentou.
Em 28 de agosto de 2003, a Comissão da Verdade e da Reconciliação apresentou seu relatório final, no qual revelou que o número de vítimas da guerra civil entre 1980 e 2000 totalizou cerca de 70 mil pessoas, que o grupo terrorista Sendero Luminoso foi o culpado pelo maior número de vítimas e que três de cada quatro pessoas mortas eram pobres, tinham como língua materna um idioma diferente do espanhol e viviam em zonas distantes das cidades.
Além disso, a CVR determinou que, durante a guerra civil iniciada pelo Sendero Luminoso e pelo Movimento Revolucionário Tupac Amaru, o ex-presidente Alberto Fujimori foi responsável por violações aos direitos humanos, ao contrário dos ex-presidentes Fernando Belaúnde (1980-1985) e Alan García (1985-1990).
Por sua vez, a Defensora do Povo, Beatriz Merino declarou: "Após a guerra, devemos deixar de lado os confrontos, e devemos nos encaminhar a um cenário novo que é o da reconciliação, onde prima a tolerância e o respeito; a opinião do outro deve ser respeitada, e não se pode ferir a memória das vítimas assim". "O relatório final trouxe à memória feitos dolorosos mas também traçou uma reta. É um testemunho de dor, coragem e esperança que não devemos esquecer", acrescenta.
Fujimori está sendo processado por ser o suposto autor direto do seqüestro de opositores depois do chamado "autogolpe" de 1992 e da criação do grupo Colina, que se formou dentro do Exército para eliminar extrajudicialmente supostos membros do Sendero Luminoso. O grupo cometeu o assassinato de 25 pessoas, "entre eles um menino de oito anos", em Barrios Altos e na Universidade de La Cantuta, em Lima, capital peruana.
No julgamento de Fujimori desfilaram todos os ex-homens de confiança de seu governo, assim como os membros do chamado "esquadrão da morte", conhecido como grupo Colina, em homenagem a um militar assassinado por membros do Sendero Luminoso, assim como os familiares das vítimas e peritos judiciais.
Entre os testemunhos que constituem a pedra angular contra o ex-governante (conhecido entre seus seguidores como "el chino") se encontram os vídeos realizados pelo jornalista Umberto Jara; o major aposentado Santiago Martín Rivas (chefe do esquadrão da morte e que afirma que as ordens para realizar os assassinatos extra-judiciais provinham de Fujimori); o ex-assessor presidencial Vladmiro Montesinos; e o Chefe do estado-maior do exército, general Nicolás Hermoza Ríos.
De acordo com fontes vinculadas ao tribunal que está julgando Fujimori, o julgamento do ex-presidente acabará no final de novembro e sua sentença, seja de culpado ou não, sairá antes do final do ano. Este processo foi qualificado como histórico pelos ativistas de direitos humanos na América Latina, já que constituiria a primeira vez em que um ex-presidente é julgado por delitos de lesa-humanidade, e a base de toda a ação é o relatório final da CVR.
As feridas da guerra civil que sacudiu o Peru entre 1980 e 2000 não se fecharam por completo entre os seguidores do ex-presidente Alberto Fujimori, que invadiram com violência a celebração do quinto aniversário da apresentação do Relatório Final da Comissão da Verdade e da Reconciliação (CVR). Os partidários de Fujimori culpam os membros da comissão pelo julgamento a que o ex-presidente está sendo submetido desde o ano passado - acusado de violações dos direitos humanos - o qual poderia condenar-lhe a uma sentença de 30 anos de prisão, determinando, portanto, que o ex-chefe de Estado (1990-2000), já com 70 anos, termine seus dias atrás das grades. Na celebração convocada pela coordenadoria peruana de Direitos Humanos em uma praça de Lima onde se encontra o "Olho que Chora" - monumento realizado pela escultura holandesa Lika Mutal - o objetivo era prestar uma homenagem às vítimas da violência com a apresentação de grupos de teatro, como o Yuyachkani, e com o semeio de flores coloridas. Durante o discurso do ex-presidente da CRV, Salomón Lerner, os partidários de Fujimori, vestindo camisetas com o rosto do presidente, rodearam o parque e entraram no jardim onde foram semeadas as plantas com os nomes das vítimas, portando cartazes que diziam "quanto cobraram, vendidos" e que o ex-mandatário "salvou o país", além de "viva as forças armadas". A violenta invasão causou uma briga com os policiais e os espectadores que assistiam a homenagem. Isso demonstrou que o julgamento de Fujimori mantém acesas as rixas entre os peruanos e a divisão entre os que apóiam ou não o relatório final da CVR, no qual o ex-presidente é apontado como responsável por violações dos direitos humanos durante o combate ao terrorismo. O presidente da Coordenação Peruana de Direitos Humanos, Ronald Gamarra, disse que "os manifestantes demonstram que estão órfãos de argumentos no julgamento de Fujimori e vêm demonstrar sua contrariedade, da única maneira que conhecem, a violenta". "Com este ato não está se agredindo apenas algumas vítimas, se está agredindo a todas. A única maneira de responder essas agressões é com a verdade", acrescentou.
Em 28 de agosto de 2003, a Comissão da Verdade e da Reconciliação apresentou seu relatório final, no qual revelou que o número de vítimas da guerra civil entre 1980 e 2000 totalizou cerca de 70 mil pessoas, que o grupo terrorista Sendero Luminoso foi o culpado pelo maior número de vítimas e que três de cada quatro pessoas mortas eram pobres, tinham como língua materna um idioma diferente do espanhol e viviam em zonas distantes das cidades.
Além disso, a CVR determinou que, durante a guerra civil iniciada pelo Sendero Luminoso e pelo Movimento Revolucionário Tupac Amaru, o ex-presidente Alberto Fujimori foi responsável por violações aos direitos humanos, ao contrário dos ex-presidentes Fernando Belaúnde (1980-1985) e Alan García (1985-1990).
Por sua vez, a Defensora do Povo, Beatriz Merino declarou: "Após a guerra, devemos deixar de lado os confrontos, e devemos nos encaminhar a um cenário novo que é o da reconciliação, onde prima a tolerância e o respeito; a opinião do outro deve ser respeitada, e não se pode ferir a memória das vítimas assim". "O relatório final trouxe à memória feitos dolorosos mas também traçou uma reta. É um testemunho de dor, coragem e esperança que não devemos esquecer", acrescenta.
Fujimori está sendo processado por ser o suposto autor direto do seqüestro de opositores depois do chamado "autogolpe" de 1992 e da criação do grupo Colina, que se formou dentro do Exército para eliminar extrajudicialmente supostos membros do Sendero Luminoso. O grupo cometeu o assassinato de 25 pessoas, "entre eles um menino de oito anos", em Barrios Altos e na Universidade de La Cantuta, em Lima, capital peruana.
No julgamento de Fujimori desfilaram todos os ex-homens de confiança de seu governo, assim como os membros do chamado "esquadrão da morte", conhecido como grupo Colina, em homenagem a um militar assassinado por membros do Sendero Luminoso, assim como os familiares das vítimas e peritos judiciais.
Entre os testemunhos que constituem a pedra angular contra o ex-governante (conhecido entre seus seguidores como "el chino") se encontram os vídeos realizados pelo jornalista Umberto Jara; o major aposentado Santiago Martín Rivas (chefe do esquadrão da morte e que afirma que as ordens para realizar os assassinatos extra-judiciais provinham de Fujimori); o ex-assessor presidencial Vladmiro Montesinos; e o Chefe do estado-maior do exército, general Nicolás Hermoza Ríos.
De acordo com fontes vinculadas ao tribunal que está julgando Fujimori, o julgamento do ex-presidente acabará no final de novembro e sua sentença, seja de culpado ou não, sairá antes do final do ano. Este processo foi qualificado como histórico pelos ativistas de direitos humanos na América Latina, já que constituiria a primeira vez em que um ex-presidente é julgado por delitos de lesa-humanidade, e a base de toda a ação é o relatório final da CVR.
Nenhum comentário:
Postar um comentário