Observe o mapa acima, referente à China e Taiwan, em destaque à direita !
A ÚLTIMA AMEAÇA
O presidente taiwanês, Chen Shui-bian, pretende adotar, através de um referendum, uma nova Constituição, a partir de 2006, e declarar a independência do país em 2008. A resposta da República Popular da China não demorou. Veio através da lei “anti-secessão”, promulgada em 14 de março deste ano. A lei contém dez artigos, nos quais é repetido várias vezes o princípio que só pode existir uma única China, com a clara negação da independência da pequena ilha rebelde. O oitavo ponto da lei prevê o uso de medidas “não pacíficas”, caso Taiwan declare a intenção de separar-se de Pequim. Que outro significado pode ter aquela expressão, a não ser uma intervenção armada?
Tal lei forneceria à China continental as bases legais para o uso da força militar, caso a ilha se declare independente. A ameaça deve ser levada mesmo a sério? Parece que sim, porque 700 mísseis chineses apontam para Taiwan, que também não deixou por menos. Há bastante tempo, o país vem investindo vários bilhões de dólares por ano na compra de armas e na preparação de seu exército, um dos mais bem armados e treinados da Ásia. É verdade que, ainda que bem armados, 300 mil soldados pouco poderiam fazer contra os 3 milhões da China continental.
Esta, porém, não conta com o rápido transporte aéreo e marítimo, do continente para a ilha, de uma ingente quantidade de tropas e de suprimentos, para impedir, logo ao nascer, qualquer tentativa organizada de resistência. Restaria a possibilidade de usar mísseis para arrasar todas as instalações importantes da ilha e, em seguida, enviar as tropas. Mas essa solução não convém à China que, sob o aspecto econômico, depende muito da ilha. Taiwan investiu no continente mais de 40 bilhões de dólares, sem contar as 40 mil empresas suas que atuam na China continental.
Esta poderia, talvez com uso da força nuclear, vencer uma eventual guerra, mas a vitória se transformaria num mau negócio do ponto de vista econômico. As relações entre os dois países parecem destinadas a continuar como num jogo de gato-e-rato, que eternamente se desafiam e reagem, correndo um atrás do outro sem nunca chegar à uma solução definitiva.
A REAÇÃO ÀS AMEAÇAS CHINESAS
A reação taiwanesa à lei anti-secessão também foi imediata. Mais de um milhão de pessoas se manifestaram nas ruas da capital, Taipei, contra esta lei. Chamando a lei de “ato de agressão”, ameaçadora nos tons e no conteúdo, pediram que fosse retirada, denunciando-a diante da comunidade internacional. A manifestação teve o caráter de um “carnaval democrático”, sem incidentes, sem violência, tentando ridicularizar os autores da lei. O povo se reuniu, vindo de dez caminhos diferentes, como eram dez os artigos da lei contestada; 706 crianças desfilaram com os adultos, tantas quantos são os mísseis que, na costa meridional chinesa, estão apontados contra Taiwan; tanques de guerra e mísseis de papelão, balões e pombas, bandeiras de todas as cores e adesivos anti-guerra eram carregados pelo povo.
Os objetivos da marcha foram bem sintetizados pelo deputado Bi-Khim Hsiao: “nós nos damos conta que a marcha não vai mudar a lei, mas queremos chamar a atenção internacional sobre a situação, para forçar a China continental a se entender conosco de modo pacífico”. Outras impressões de participantes da manifestação: “Estou aqui para protestar contra uma China bárbara que olha de cima para baixo o povo de Taiwan”, e “se eles nos consideram efetivamente como patrícios, porque promulgaram uma lei, como essa, que autoriza a guerra?”
Até o presidente, Chen Shui-bian, com a filha, o genro e o sobrinho, participou da manifestação. A secretária-de-Estado americano, Condoleezza Rice, tão logo voltou de sua viagem oficial à China, declarou que os dirigentes chineses se deram conta de ter exagerado e que estão tentando corrigir a lei. Em meio à tensão geopolítica, empresários e políticos dos dois países continuam discutindo problemas de colaboração no campo econômico, inclusive a abertura de vôos comerciais diretos entre a China e Taiwan.
A ilha de Taiwan, situada a 200 quilômetros da costa da China, foi ocupada em 1590 pelos portugueses, que estabeleceram ali um entreposto comercial, chamado por eles de Formosa. Só em 1661 os chineses tomaram posse dela e a transformaram em província. No fim da Segunda Guerra Mundial, a China era governada pelo Partido Nacionalista (Kuomingtang) tendo como presidente Chiang Kai-shek.
Mas, derrotados pelos comunistas de Mao Tsé-tung, os nacionalistas tiveram que fugir e se refugiaram na ilha de Taiwan, que se tornou um país independente sob o nome de República da China.
Chiang Kai-shek permaneceu no poder até a morte (1975). Sucedeu-lhe o filho Chiang Ching-kuo, que governou até 1988, ano de sua morte. A partir dessa data, Taiwan abriu-se à democracia: hoje o país tem um governo democraticamente eleito, com presidentes que se sucedem a cada quatro anos. Desde o começo, Taiwan adotou um regime capitalista e, como os outros países chamados “tigres asiáticos”, teve um rápido desenvolvimento econômico, estimulado também por investimentos maciços dos Estados Unidos.
Mas a China continua considerando Taiwan sua 23ª província e gostaria que se enquadrasse na mesma fórmula em que se enquadrou Hong Kong: “um país, dois sistemas”; isto é, Taiwan deveria aceitar sua condição de província da China, com a garantia de conservar a autonomia quanto à manutenção de seu sistema democrático e capitalista. Mas, enquanto não aparecerem sinais de aberturas democráticas no continente, o governo e os habitantes da ilha não parecem dispostos a aceitar as propostas de Pequim.
As duas Chinas, a ilha e o continente, vivem numa contínua situação de tensão
Ameaças do lado mais forte, que, aparentemente, não são levadas em grande consideração pelo outro lado, o mais fraco, pelo menos até agora.
Mas, derrotados pelos comunistas de Mao Tsé-tung, os nacionalistas tiveram que fugir e se refugiaram na ilha de Taiwan, que se tornou um país independente sob o nome de República da China.
Chiang Kai-shek permaneceu no poder até a morte (1975). Sucedeu-lhe o filho Chiang Ching-kuo, que governou até 1988, ano de sua morte. A partir dessa data, Taiwan abriu-se à democracia: hoje o país tem um governo democraticamente eleito, com presidentes que se sucedem a cada quatro anos. Desde o começo, Taiwan adotou um regime capitalista e, como os outros países chamados “tigres asiáticos”, teve um rápido desenvolvimento econômico, estimulado também por investimentos maciços dos Estados Unidos.
Mas a China continua considerando Taiwan sua 23ª província e gostaria que se enquadrasse na mesma fórmula em que se enquadrou Hong Kong: “um país, dois sistemas”; isto é, Taiwan deveria aceitar sua condição de província da China, com a garantia de conservar a autonomia quanto à manutenção de seu sistema democrático e capitalista. Mas, enquanto não aparecerem sinais de aberturas democráticas no continente, o governo e os habitantes da ilha não parecem dispostos a aceitar as propostas de Pequim.
As duas Chinas, a ilha e o continente, vivem numa contínua situação de tensão
Ameaças do lado mais forte, que, aparentemente, não são levadas em grande consideração pelo outro lado, o mais fraco, pelo menos até agora.
A ÚLTIMA AMEAÇA
O presidente taiwanês, Chen Shui-bian, pretende adotar, através de um referendum, uma nova Constituição, a partir de 2006, e declarar a independência do país em 2008. A resposta da República Popular da China não demorou. Veio através da lei “anti-secessão”, promulgada em 14 de março deste ano. A lei contém dez artigos, nos quais é repetido várias vezes o princípio que só pode existir uma única China, com a clara negação da independência da pequena ilha rebelde. O oitavo ponto da lei prevê o uso de medidas “não pacíficas”, caso Taiwan declare a intenção de separar-se de Pequim. Que outro significado pode ter aquela expressão, a não ser uma intervenção armada?
Tal lei forneceria à China continental as bases legais para o uso da força militar, caso a ilha se declare independente. A ameaça deve ser levada mesmo a sério? Parece que sim, porque 700 mísseis chineses apontam para Taiwan, que também não deixou por menos. Há bastante tempo, o país vem investindo vários bilhões de dólares por ano na compra de armas e na preparação de seu exército, um dos mais bem armados e treinados da Ásia. É verdade que, ainda que bem armados, 300 mil soldados pouco poderiam fazer contra os 3 milhões da China continental.
Esta, porém, não conta com o rápido transporte aéreo e marítimo, do continente para a ilha, de uma ingente quantidade de tropas e de suprimentos, para impedir, logo ao nascer, qualquer tentativa organizada de resistência. Restaria a possibilidade de usar mísseis para arrasar todas as instalações importantes da ilha e, em seguida, enviar as tropas. Mas essa solução não convém à China que, sob o aspecto econômico, depende muito da ilha. Taiwan investiu no continente mais de 40 bilhões de dólares, sem contar as 40 mil empresas suas que atuam na China continental.
Esta poderia, talvez com uso da força nuclear, vencer uma eventual guerra, mas a vitória se transformaria num mau negócio do ponto de vista econômico. As relações entre os dois países parecem destinadas a continuar como num jogo de gato-e-rato, que eternamente se desafiam e reagem, correndo um atrás do outro sem nunca chegar à uma solução definitiva.
A REAÇÃO ÀS AMEAÇAS CHINESAS
A reação taiwanesa à lei anti-secessão também foi imediata. Mais de um milhão de pessoas se manifestaram nas ruas da capital, Taipei, contra esta lei. Chamando a lei de “ato de agressão”, ameaçadora nos tons e no conteúdo, pediram que fosse retirada, denunciando-a diante da comunidade internacional. A manifestação teve o caráter de um “carnaval democrático”, sem incidentes, sem violência, tentando ridicularizar os autores da lei. O povo se reuniu, vindo de dez caminhos diferentes, como eram dez os artigos da lei contestada; 706 crianças desfilaram com os adultos, tantas quantos são os mísseis que, na costa meridional chinesa, estão apontados contra Taiwan; tanques de guerra e mísseis de papelão, balões e pombas, bandeiras de todas as cores e adesivos anti-guerra eram carregados pelo povo.
Os objetivos da marcha foram bem sintetizados pelo deputado Bi-Khim Hsiao: “nós nos damos conta que a marcha não vai mudar a lei, mas queremos chamar a atenção internacional sobre a situação, para forçar a China continental a se entender conosco de modo pacífico”. Outras impressões de participantes da manifestação: “Estou aqui para protestar contra uma China bárbara que olha de cima para baixo o povo de Taiwan”, e “se eles nos consideram efetivamente como patrícios, porque promulgaram uma lei, como essa, que autoriza a guerra?”
Até o presidente, Chen Shui-bian, com a filha, o genro e o sobrinho, participou da manifestação. A secretária-de-Estado americano, Condoleezza Rice, tão logo voltou de sua viagem oficial à China, declarou que os dirigentes chineses se deram conta de ter exagerado e que estão tentando corrigir a lei. Em meio à tensão geopolítica, empresários e políticos dos dois países continuam discutindo problemas de colaboração no campo econômico, inclusive a abertura de vôos comerciais diretos entre a China e Taiwan.
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