sábado, 6 de setembro de 2008

FOCO 14 : FLANDRES , DA BÉLGICA !

Com altos índices de crescimento econômico, os flamengos não querem mais carregar nas costas os atrasados valões, que os humilharam no passado. E as tensões autonomistas põem em risco a frágil unidade nacional belga.
Flandres (em holandês Vlaanderen, em francês Flandre e em alemão Flandern) é toda a região norte da Bélgica, enquanto a região sul é chamada de Valônia. Nesta parte do país é utilizado o flamengo como língua, uma variante do neerlandês. Seus habitantes são designados de "flamengos".
A história do início da Bélgica como país contribuiu para a formação de movimentos separatistas de ambos os lados (flamengo e valão). Do lado de Flandres, partidos extremamente conservadores (como o Vlaams Belang, maior deles) lutam pela separação, alegando que os valões vivem às custas dos flamengos. Tudo tem base no passado belga, quando a Valônia era a região mais rica e seu povo menosprezava Flandres e tudo o que vinha dela simplesmente pelo fato de eles serem mais "pobres". Nesse período, os flamengos eram oprimidos por falar uma língua diferente e tinham pouco ou nenhum direito civil se comparados aos compatriotas da Valônia.
Quando a situação inverteu-se, muitos flamengos sentiam-se injustiçados e adotaram uma posição radical.
Uma das grandes questões discutidas hoje é que os valões continuam tendo uma posição extremamente conservadora. Apesar do
neerlandês ser língua oficial da Bélgica, poucos valões fazem questão de aprendê-lo, optando mesmo pelo idioma inglês na hora de se comunicar com o norte. Em contrapartida, os flamengos se esforçam para aprender a língua da Valônia (francês) assim como o alemão, falado em uma pequena parte do país. Em pesquisas feitas anualmente na Bélgica, nota-se que cada vez mais flamengos falam o francês fluentemente, enquanto o número de valões que falam o neerlandês mantém-se ou aumenta pouco. Somado a isso, ainda existe um forte sentimento de inimizade de ambas as partes, já que os flamengos não perdoam o que os valões fizeram com eles e nem os valões aceitam Flandres como região mais importante economicamente para seu país.

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O Portal de Notícias da Globo
11/08/08 - 16h28 - Atualizado em 11/08/08 - 16h33
Movimentos separatistas na Bélgica podem dissolver o país
Não há unidade entre as regiões flamengas e as francófonas.'Temos duas culturas separadas', lamenta prefeito de uma cidade flamenga.
Michael Kimmelman Do New York Times
Jornal alemão chamou o país de o 'mais bem-sucedido estado falido da História'.

Há alguns dias, Damien Thiery estava na sala de reunião da prefeitura de Linkebeek, na Bélgica, onde quase todo mês ele é assediado por nacionalistas flamengos em sessões públicas da assembléia. A grande maioria – quase 85% – da população dessa comunidade suburbana perto de Bruxelas fala francês. Há mais de um ano, Thiery, nascido em Linkebeek, foi eleito prefeito. Mas Linkebeek pertence ao norte, flamengo, e o governo dessa região até agora se recusa a ratificar sua eleição. É que Thiery não é flamengo. Recentemente, o jornal alemão “Die Tageszeitung” chamou a Bélgica de “o ‘estado falido’ de maior sucesso de todos os tempos”.
SAIBA MAIS
Yves Leterme, primeiro-ministro da Bélgica, quis renunciar no mês passado, afirmando que o “modelo de consenso federal chegou ao seu limite”, e que ele não podia trazer harmonia às regiões flamengas e aos falantes do francês, aumentando as possibilidades de que essa nação de 10,4 milhões de pessoas possa se dividir para sempre. Os constantes conflitos da Bélgica sempre foram bastante divulgados.
O país continua confuso, como tem sido há décadas, com a renda per capita maior do que a da Alemanha, o maior exportador do mundo, apesar de que talvez tenha se chegado à gota d’água. Muitos dos problemas atuais são decorrentes das crescentes exigências por autonomia da região norte, mais populosa e próspera, das disputas por distritos eleitorais como em Linkebeek. No fim das contas, tudo é uma questão de cultura, e a Bélgica demonstra uma ligação inexorável entre cultura e nação.
Como prefeito em atividade, Thiery preside reuniões tensas nas quais nacionalistas de fora da cidade prestam atenção para ver se ele deixa escapar uma palavra em francês, em vez de flamengo, como são conhecidos os variados dialetos holandeses da região flamenga. Se isso acontecer, diz ele, todas as decisões da assembléia podem ser anuladas e ele pode ser substituído no cargo de prefeito por alguém escolhido pelos flamengos.

“Temos duas culturas separadas na Bélgica”, disse Thiery, claramente exasperado. “Não existia toda essa divisão quando eu era mais jovem. Os manifestantes gritam em nossas reuniões: ‘Franceses, saiam do nosso território’. As autoridades flamengas se recusam a contratar professores que falam francês; eles dão às crianças flamengas 179 euros por ano para viagens escolares e outras despesas, e só 68 euros para crianças francesas.

Se queremos obter subsídios, somos obrigados a estocar nossa biblioteca com 75% dos livros em flamengo, mas é ridículo ter uma biblioteca flamenga em uma cidade cuja maioria dos habitantes fala francês”. Se os flamengos se separarem algum dia, uma nação flamenga independente que deseje obter novamente o acesso à União Européia teria que respeitar eleições populares, incluindo a dele, argumentou com tristeza. “Irônico, não?” Els Witte é uma historiadora belga. Em seu apartamento, na mesma rua onde fica a sede da União Européia em Bruxelas, ela refletiu sobre o casamento mal-sucedido entre a Valônia, de língua francesa, e os Flandres, de língua holandesa. “Língua é cultura”, disse. “Na Bélgica, as duas culturas conhecem muito pouco sobre a outra porque falam línguas diferentes. Existem, por exemplo, cantores que são famosos em uma parte, na outra não. A televisão é diferente, os jornais, os livros”.

“Limpeza lingüística”

Francófonos agora falam de “limpeza lingüística”. Os flamengos, muitos deles abertamente insatisfeitos com os subsídios praticados em favor dos compatriotas de fala francesa, que são mais pobres e que por anos sobrecarregaram a região economicamente e de outras formas (o desemprego hoje é três vezes maior na região da Valônia), afirmam que a questão é preservar o patrimônio nacional. “É difícil ter uma conversa racional”, disse Roel Jacobs, escritor e filho de pais flamengos que mora na bilíngüe Bruxelas. “Existem 6 milhões de falantes do holandês. Eles se irritam com a influência francófona, mas, ao mesmo tempo, não se importam com a influência da cultura inglesa ou anglo-saxônica”, e continuou, “então, a coisa não é racional. Esquecemos nossa verdadeira história cultural. No século quinze, Bruges era a cidade mais vibrante fora da Itália porque estava cheia de estrangeiros.

Depois, foi Antuérpia, quando os estrangeiros deixaram Bruges. Hoje, o movimento nacional nos Flandres nega totalmente seu passado”. Há um século, Emile Verhaeren, poeta simbolista flamengo, nascido em Sint-Amands, perto de Antuérpia, e que freqüentou a Universidade de Leuven, escrevia em francês. Agora a universidade se dividiu em duas, uma parte flamenga, a outra parte francesa, e se mudou para a Valônia, e a região ao redor de Sint-Amands é uma fortaleza de flamengos nacionalistas anti-imigrantes de extrema direita. “Naquela época, os francófonos não desejavam um país bilíngüe”, disse Witte. “Os franceses dominavam, e isso significa que eles precisavam aprender flamengo.


Os flamengos instruídos falavam francês. Mas aí o sistema eleitoral mudou e permitiu que todos votassem, e mais poder foi dado às classes médias e baixas flamengas que não falavam francês.”

“A Bélgica pode desaparecer”
Há alguns dias, Dannemark estava em casa em Bruxelas. “Acho que isso não vai acontecer, mas pela primeira vez eu realmente acredito que a Bélgica possa desaparecer”, disse. Dannemark é editor na Le Castor Astral, uma editora de língua francesa. Ele publica traduções de escritores flamengos diretamente do holandês, uma raridade aqui. “Os flamengos hoje veneram seus escritores porque para eles a língua é um símbolo de independência”, ele disse. “Fiquei chocado em saber que meus colegas que falam francês não conheciam seus vizinhos”. Ele selecionou uma tradução para o francês de “O Labirinto Belga”, de Geert van Istendael, talvez o mais conhecido escritor ainda vivo nos Flandres, que ainda é muito pouco lido pelos francófonos. “Um amigo meu flamengo”, disse Dannemark, “me explicou da seguinte forma: ‘A região dos Flandres não tem nada em comum com a Holanda, a não ser a língua’. Mas quase não existe comunicação entre as duas línguas, exceto através do rock, que todos cantam em inglês, e dos esportes, que ultrapassam qualquer barreira.” Dannemark acrescentou: “A cultura flamenga hoje é dinâmica. Intelectuais flamengos são fluentes em holandês, francês, inglês, não fazem parte de movimentos separatistas. Muitos deles vêm viver em Bruxelas porque aqui nós somos os últimos belgas. Muita gente nos Flandres agora diz ‘sou flamengo’, e não ‘sou belga’. É como se a Bélgica que fala flamengo quisesse deixar a Europa. E, se não fosse pobre, a região da Valônia talvez também quisesse se separar.”

2 comentários:

Anônimo disse...

Bélgica e um país que é dividido em pobres e ricos...
:D

Anônimo disse...

Bélgica e um país que é dividido em pobres e ricos...
:D