NOSSOS VIZINHOS, VENEZUELA E COLÔMBIA ENTÃO EM PÉ DE GUERRA, E PRECISAMOS ANALISAR ISSO FRIAMENTE, NÃO NO SENTIMENTALISMO DESREGRADO, MAS PELO PONTO DE VISTA DOS DOIS LADOS...
Que consequências esta ruptura trará para Venezuela e Colômbia?
COM ESTAS ENTREVISTAS PODEMOS TER UMA NOÇÃO BEM MAIS SIMPLES DOS PORQUES DESTA CRISE E TENSÃO AQUÍ PRÓXIMO DO BRASIL, E COMO NOSSO PAÍS PODE INTERFERIR NESTA SITUAÇÃO...
Nas últimas semanas, o presidente venezuelano Hugo Chávez passou diversos sinais conciliadores para o mandatário eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, que tomará posse dia 7 de agosto. O retorno também foi promissor: o novo chefe de Estado colombiano revelou-se disposto a construir uma agenda positiva, que permitisse o pleno reatamento entre os dois países.
O comentário é de Breno Altman, jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi, 22-07-2010.
Mas a aproximação foi fulminada pela ação de Álvaro Uribe, desconfortável com a autonomia de seu sucessor e o risco de perder espaço na vida política do país. Mesmo sem qualquer incidente que servisse de pretexto, jogou-se nos últimos dias a reativar denúncias sobre supostos vínculos entre as Farc e a administração chavista.
O ápice da performance uribista foi a atual reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos), que se realiza em Washington. Bogotá apresentou provas para lá de duvidosas, que sequer foram corroboradas por seus aliados tradicionais, de que a Venezuela estaria protegendo e acobertando atividades guerrilheiras. A reação de Caracas foi dura e imediata.
A decisão pela ruptura de relações diplomáticas, no entanto, pode ser provisória. O próprio presidente Chávez, nas primeiras declarações a respeito dessa atitude, reafirmou a esperança de que Santos arrume a bagunça armada pelo atual ocupante do Palácio de Nariño. Mas reiterou sua disposição de enfrentar e desqualificar a estratégia de Uribe.
O presidente colombiano parece mirar dois objetivos.
O comentário é de Breno Altman, jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi, 22-07-2010.
Mas a aproximação foi fulminada pela ação de Álvaro Uribe, desconfortável com a autonomia de seu sucessor e o risco de perder espaço na vida política do país. Mesmo sem qualquer incidente que servisse de pretexto, jogou-se nos últimos dias a reativar denúncias sobre supostos vínculos entre as Farc e a administração chavista.
O ápice da performance uribista foi a atual reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos), que se realiza em Washington. Bogotá apresentou provas para lá de duvidosas, que sequer foram corroboradas por seus aliados tradicionais, de que a Venezuela estaria protegendo e acobertando atividades guerrilheiras. A reação de Caracas foi dura e imediata.
A decisão pela ruptura de relações diplomáticas, no entanto, pode ser provisória. O próprio presidente Chávez, nas primeiras declarações a respeito dessa atitude, reafirmou a esperança de que Santos arrume a bagunça armada pelo atual ocupante do Palácio de Nariño. Mas reiterou sua disposição de enfrentar e desqualificar a estratégia de Uribe.
O presidente colombiano parece mirar dois objetivos.
O primeiro deles é interno: a reiteração da “linha dura” como política interna facilita sua aposta de manter hegemonia sobre os setores militares e sociais que conseguiu agregar durante seu governo.
O segundo, porém, tem alcance internacional. O uribismo é parte da política norte-americana para combater Chávez e outro governos progressistas; mesmo fora do poder, o líder ultradireitista não quer perder protagonismo e se apresenta como avalista para manter Santos na mesma conduta.
Fontes do Palácio de Miraflores não hesitam em afirmar que as provocações de Uribe, além de fixar seu alvo no presidente venezuelano, seriam estranhamente coincidentes com o discurso de José Serra e Indio da Costa no Brasil, retomando a pauta de eventuais relações entre o PT e a guerrilha colombiana. Esses analistas afirmam que o governante de Bogotá deu um lance para se manter em evidência na disputa regional entre os blocos de esquerda e direita.
Autoridades venezuelanas, nos bastidores, se empenham para que haja uma condenação generelizada, dos países latino-americanos, à conduta de Bogotá e ao cúmplice silêncio norte-americano. Não desejam que outras nações sigam o caminho da ruptura, mas Chávez parece convencido que seu colega colombiano não poderá ser detido com meias-palavras ou atos de conciliação.
Fontes do Palácio de Miraflores não hesitam em afirmar que as provocações de Uribe, além de fixar seu alvo no presidente venezuelano, seriam estranhamente coincidentes com o discurso de José Serra e Indio da Costa no Brasil, retomando a pauta de eventuais relações entre o PT e a guerrilha colombiana. Esses analistas afirmam que o governante de Bogotá deu um lance para se manter em evidência na disputa regional entre os blocos de esquerda e direita.
Autoridades venezuelanas, nos bastidores, se empenham para que haja uma condenação generelizada, dos países latino-americanos, à conduta de Bogotá e ao cúmplice silêncio norte-americano. Não desejam que outras nações sigam o caminho da ruptura, mas Chávez parece convencido que seu colega colombiano não poderá ser detido com meias-palavras ou atos de conciliação.
O cientista político José Vicente Carrasquero, da Universidade Central da Venezuela, diz que tanto Álvaro Uribe como Hugo Chávez manejaram mal o conflito entre os dois países, que pode trazer problemas para o novo presidente da Colômbia e para o venezuelano.
A entrevista é de Mariana Timóteo da Costa e publicada pelo jornal O Globo, 23-07-2010.
Eis a entrevista.
A entrevista é de Mariana Timóteo da Costa e publicada pelo jornal O Globo, 23-07-2010.
Eis a entrevista.
Quem sai mais prejudicado com a crise?
Juan Manuel Santos (o presidente eleito da Colômbia) herdou uma grande batata quente e pode custar para consertar a relação com a Venezuela. Chávez certamente ganhou, com a decisão de romper com o vizinho, a antipatia dos pelo menos dois milhões de colombianos que vivem na Venezuela — muitos deles inclusive têm dupla cidadania e votam em nosso país. Isso, a dois meses de eleições, pode causar impacto. Mas quem sofre mais é o povo: na fronteira, por questões de segurança; nas cidades venezuelanas, por causa do desabastecimento de produtos que antes comprávamos da Colômbia. Os habitantes de nosso vizinho também, já que milhões dependem do dinheiro que vem da Venezuela para sobreviver.
Juan Manuel Santos (o presidente eleito da Colômbia) herdou uma grande batata quente e pode custar para consertar a relação com a Venezuela. Chávez certamente ganhou, com a decisão de romper com o vizinho, a antipatia dos pelo menos dois milhões de colombianos que vivem na Venezuela — muitos deles inclusive têm dupla cidadania e votam em nosso país. Isso, a dois meses de eleições, pode causar impacto. Mas quem sofre mais é o povo: na fronteira, por questões de segurança; nas cidades venezuelanas, por causa do desabastecimento de produtos que antes comprávamos da Colômbia. Os habitantes de nosso vizinho também, já que milhões dependem do dinheiro que vem da Venezuela para sobreviver.
Quem errou mais? Uribe, ao fazer as acusações contra a Venezuela, ou Chávez, ao anunciar que romperia relações com a Colômbia?
São dois líderes mais semelhantes do que a gente imagina: carismáticos, passionais, vaidosos e que tiveram atitudes intempestivas. Uribe agiria melhor, seria mais elegante, se entregasse este dossiê, que ao que me parece contém informações importantes, ao seu sucessor. Afinal, ele está deixando o poder. Já Chávez deveria — e tinha a obrigação — de reagir às acusações da forma como um chefe de Estado deve reagir: contestando os dados, apresentando soluções. Eu e milhões de eleitores na Venezuela queremos saber se guerrilheiros e terroristas encontram abrigo em nosso país. O governo nunca nos deu uma explicação satisfatória.
Em que isso prejudica os outros países da região?
Só o tempo e os termos desta ruptura, que ainda não estão muito claros, vão nos dizer.
Só o tempo e os termos desta ruptura, que ainda não estão muito claros, vão nos dizer.
O pesquisador e sociólogo colombiano Alfredo Rangel, da Fundação Segurança e Democracia, diz que a decisão de Hugo Chávez apenas formalizou uma ruptura que já havia, mas acha que a situação pode ser revertida depois que o novo governo da Colômbia tomar posse.
A entrevista é de Mariana Timóteo da Costa e publicada pelo jornal O Globo, 23-07-2010.
Eis a entrevista.
A entrevista é de Mariana Timóteo da Costa e publicada pelo jornal O Globo, 23-07-2010.
Eis a entrevista.
Que consequências esta ruptura trará para Venezuela e Colômbia?
Acho que vai prejudicar setores diplomáticos, consulares e negociações bilaterais. Mas a ruptura apenas formalizou algo que já acontecia: os países brigam há muito tempo, o comércio entre eles caiu 70%, a Colômbia sabe que guerrilheiros vivem na Venezuela e que o país não luta contra isso. As relações terão que recomeçar do zero no dia 7, quando o presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, tomar posse.
O senhor é defensor das políticas de Álvaro Uribe. Ele agiu certo ao apresentar agora essas denúncias, a duas semanas de deixar o governo?
As provas que ele apresentou são realmente novas e as acusações contra a Venezuela, graves. Mas é evidente que Uribe quis mostrar seu desacordo com Santos, que defende normalizar as relações com o vizinho. Os dois querem acabar com o terrorismo e o narcotráfico, só que Uribe “limpou a casa internamente” antes de ir para a fronteira. Não se preocupou em contar com a colaboração da Venezuela. Santos pensa diferente e acho que solucionar esta questão com Chávez será uma das prioridades — e se ele conseguir uma das vitórias — de seu governo. Acho que ele consegue.
As provas que ele apresentou são realmente novas e as acusações contra a Venezuela, graves. Mas é evidente que Uribe quis mostrar seu desacordo com Santos, que defende normalizar as relações com o vizinho. Os dois querem acabar com o terrorismo e o narcotráfico, só que Uribe “limpou a casa internamente” antes de ir para a fronteira. Não se preocupou em contar com a colaboração da Venezuela. Santos pensa diferente e acho que solucionar esta questão com Chávez será uma das prioridades — e se ele conseguir uma das vitórias — de seu governo. Acho que ele consegue.
O Brasil e a Unasul poderiam ajudar de alguma maneira? A questão pode causar alguma tensão regional?
A Colômbia está distante do Brasil e, por tabela, da Unasul. Tanto que Santos — que está num giro pela América Latina — não vai a Brasília. Caracas tem mais aliados na região do que Bogotá. Seria bom o Brasil começar a trabalhar para equilibrar este quadro. Mas não acredito que este novo capítulo da crise se estenda aos vizinhos.
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