sábado, 11 de abril de 2009

FOCO 17: A TRANSNÍSTRIA, DA MOLDÁVIA: TENSÕES ENTRE MOLDÁVIA E ROMÊNIA !

Moldova acusa a Romênia de estar por trás da revolta dos jovens
Pilar BonetEm Kichinev (Moldova) EL PAÍS
O presidente da Moldova, o comunista Vladimir Voronin, internacionalizou na quarta-feira a crise política e os tumultos de rua depois das eleições legislativas de domingo ao acusar a Romênia de instigar as desordens, declarar "persona non grata" o embaixador de Bucareste, Filipp Teodorescu, e estabelecer um visto obrigatório para os romenos que viajam à Moldova.
Tumultos na Moldova
As tensões que culminaram na terça-feira com o saque ao Parlamento e à Presidência continuaram ontem à noite em uma manifestação diante da sede do governo, que continuará hoje. Em uma nova mensagem pela internet, os moldávios foram convocados na sexta-feira para a grande manifestação contra os comunistas diante do Parlamento.Segundo os dados definitivos anunciados ontem, os comunistas têm 60 assentos (de um total de 101), e por isso não têm a maioria necessária para eleger isoladamente o chefe do Estado. Voronin advertiu ontem que as forças de segurança utilizariam a partir de agora seu direito à violência para repelir as agressões contra as instituições do Estado.
Os líderes das três formações de oposição classificadas nas urnas, Vlad Filat, do Partido Liberal Democrático, Dorin Chirtoaca, do Partido Liberal, e Serafim Urechean, da Aliança Nossa Moldova, se reuniram ontem para combinar sua atuação.A grande dificuldade para canalizar a multidão e evitar a violência é a falta de coordenação e a desconfiança mútua entre os três protagonistas da crise: as autoridades comunistas, a nova oposição parlamentar e os jovens. As autoridades insistem no procedimento legal habitual para investigar as irregularidades eleitorais. Filat afirmou ontem que isso levará à repetição da votação e insistiu que deve ser feito antes da distribuição de assentos parlamentares.
Os jovens são um conjunto heterogêneo em que há estudantes universitários e secundaristas. Não parece que haja um movimento estudantil global e estruturado que assuma responsabilidades, mas os inspiradores do comício pacífico da noite de segunda-feira reuniram representantes de 16 grupos que na tarde de terça constituíram a Coalizão Popular Anticomunista 2009.
Em nome dessa entidade, "que não se identifica com nenhum partido político", assinaram uma declaração na qual exigem a anulação das eleições, liberdade de imprensa e a libertação dos detidos.Os políticos olham com desconfiança para os que dizem ter levado à rua 15 mil pessoas (em vez das 300 previstas) apenas com os telefones celulares e as redes sociais como Facebook e Twitter. Enquanto uns e outros negam a responsabilidade pelos desmandos de terça-feira, crescem os descontrolados. "Tive muito trabalho para evitar que assaltassem a televisão", disse Filat. "Os partidos de oposição não tinham nem microfone", indicou a jornalista Natalia Morar, uma das seis convocadoras da manifestação de segunda. Guenadie Brega, outro jovem convocador, está "refugiado na embaixada da Romênia", segundo Morar.
A promotoria informou sobre a detenção de 200 pessoas.Voronin anunciou suas medidas contra a Romênia diante de representantes do governo e de instituições acadêmicas. Os cidadãos da UE viajam para a Moldova sem visto, e a introdução dessa exigência para os romenos pode causar problemas à sociedade, já que muitos moldávios também têm passaporte romeno e se sentem culturalmente romenos.A maior parte do território da Moldova está na Bessarábia, uma região que pertenceu à Romênia. Bucareste ofereceu a nacionalidade aos moldávios com raízes na Bessarábia e recebeu 800 mil pedidos, o que corresponde em grande parte à oportunidade de ter acesso ao mercado de trabalho da União Europeia. Fontes próximas ao governo calculam que pode haver 32 mil moldávios com nacionalidade romena.
Referindo-se às medidas contra a Romênia, Voronin disse que se trata de "um passo político para que os romenos entendam que nós temos nosso Estado independente, a República da Moldova, e que não metam o nariz em nossos assuntos". "Nossa paciência tem limite", disse o presidente, que acusou a oposição de tentar um golpe de estado e ter uma atitude "antiestatal". Voronin expressou na essência suas dificuldades para que seu país, surgido do desmoronamento da União Soviética, se cristalize como Estado por si só, diante de um vizinho que influi poderosamente na forma de identificação dos jovens. Daí suas críticas às autoridades acadêmicas pela educação dos estudantes.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

09/04/2009 - 02h43, LE MONDE
A Moldova à beira da asfixia econômica
Alexandre BilletteEnviado especial a Kichinev (Moldova)
Em Kichinev, capital da pequena Moldova, o número de canteiros de obras em construção engana. Longe de refletir a verdadeira saúde econômica do país - à beira da asfixia -, as fachadas restauradas indicam somente que o proprietário foi trabalhar no exterior. Esse movimento migratório em massa manteve a Moldova desde a queda da URSS em 1991. Mas por quanto tempo ainda?
País essencialmente agrícola, o antigo "celeiro de frutos" da União Soviética corre o risco de sofrer fortemente as consequências da crise econômica mundial. Pois a Moldova sofre de uma hemorragia demográfica. Em 2008, por falta de emprego, pelo menos 350 mil moldávios foram ganhar a vida no exterior, ou seja, 10% da população total, 25% dos economicamente ativos."No ano passado, as remessas bancárias para a Moldova, dos trabalhadores no exterior, giravam em torno de ? 1,22 bilhões (R$ 3,56 bilhões); 38% do PIB", explica Ghenadie Credu, da Organização Internacional para as Migrações (OIM). No mundo, somente o Tadjiquistão depende mais de seus trabalhadores expatriados.Com a crise econômica, a diminuição das transferências de fundos, e até o retorno dos trabalhadores imigrantes, poderia desestabilizar esse país cercado pela Romênia e pela Ucrânia. "É uma bomba-relógio social", avisa Credu. Os moldávios que tomaram o rumo da Europa provavelmente vão ficar por lá, mas 60% dos imigrantes trabalham na Rússia e na Ucrânia, sobretudo no setor de construção. Eles voltaram neste inverno, e com a crise, eles correm o risco de ficar aqui, por falta de coisa melhor".
Mas é inútil procurar uma referência para esse fenômeno durante a campanha para as eleições parlamentares do dia 5 de abril, marcadas por uma vitória esmagadora do Partido Comunista Moldávio (PCM), no poder em Kichinev desde 2001. "As autoridades fingem ignorar a crise", observa Vasile Botnaru, redator-chefe da Radio Free Europe.
Oposição dividida
O partido do presidente Vladimir Vornine preferiu exaltar a "estabilidade" da Moldova, "no caminho para a integração europeia". Uma estabilidade que tem um preço: "Para manter o leu (a moeda nacional) estável até a votação, as autoridades recorreram às reservas de divisas", explica Botnaru.
Em três meses, o Banco Central teria gasto um terço de seus US$ 100 milhões; alguns chegam a afirmar em Kichinev que há risco de falência.A oposição liberal poderia aproveitar esse contexto econômico degradado. Mas ela se dividiu, destroçando-se em dez formações diferentes. Vasile Botnaru questiona: "E se a oposição preferiu abrir mão em favor dos comunistas, para não ter de administrar as consequências desastrosas da crise?"Mal organizada e sem líder, a oposição liberal não soube mostrar sua diferença. Todos os partidos - inclusive os comunistas - são a favor da integração europeia; todos pedem pela volta ao domínio moldávio da Transnístria, região separatista sustentada por Moscou desde 1991.
Em época de crise, a corrida eleitoral adquiriu um tom populista: os comunistas prometeram um aumento de 20% das aposentadorias a partir de abril; os liberais responderam anunciando um salário médio de "? 500 (R$ 1.460) por mês", contra os atuais 174.Mas neste jogo, os comunistas foram mais convincentes. Resultado: no domingo à noite, a oposição se viu com menos de 35% dos votos. "É melhor lidar com os comunistas de Voronine e induzi-los àquilo que eles têm de parecido conosco, pouco a pouco, do que estar diante de um interlocutor dúbio", reconhece um diplomata europeu em Kichinev.
A dissolução da oposição não é a única explicação para o maremoto eleitoral dos comunistas. A utilização dos "recursos administrativos" do Estado e a influência do PCM sobre a maior parte da mídia lhe permitiu dominar seus adversários. "Foi a campanha mais suja dos últimos dez anos", diz uma jornalista da Pro-TV, filial de um canal de televisão romeno e principal emissora da oposição, cuja licença de exploração quase não foi renovada em dezembro de 2008.Desde o anúncio dos resultados, o índice de participação de 60% anunciado pelas autoridades durante a votação de domingo foi apresentado como uma prova de falsificação.
Uma vez que centenas de milhares de moldávios no exterior não puderam votar, por falta de representação diplomática em seus países, a participação anunciada significaria que 80% dos eleitores na Moldova teriam comparecido às urnas. Uma porcentagem considerada estranha pela oposição.Claro, o eleitorado comunista tradicional - especialmente os aposentados e os camponeses - se manteve fiel aos seus ideais. Mas a intelligentsia da capital e os estudantes se sentem cada vez menos à vontade na Moldova de Vladimir Voronine, perplexos pelas manobras diplomáticas do regime entre Bruxelas e Moscou. Para eles, as promessas de "estabilidade" do PCM são só um sinônimo de inércia. Na segunda-feira (6), eles engrossaram os batalhões de manifestantes que invadiram as ruas de Kichinev, pilharam o Parlamento e apedrejaram a presidência.
Tradução: Lana Lim

FOCO 55: FRONTEIRA QUENTE: PAQUISTÃO E AFEGANISTÃO !

Na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão: o lugar mais perigoso do mundo
Por Susanne Koelbl e Britta Sandberg, DER SPIEGEL
Os Estados Unidos dedicam uma atenção cada vez maior ao Paquistão na tentativa de levar estabilidade ao Afeganistão, em meio a temores de que o Estado nuclear possa entrar em colapso. Grupos rivais de militantes islâmicos juntam forças para criar uma resistência em seu país - e recebem apoio da agência de inteligência do Paquistão, a ISI.

Fronteira quente
Um bombeiro paquistanês tenta apagar o fogo de um caminhão-tanque da Otan após uma explosão próximo de Peshawar. Milicianos talebans são suspeitos de terem instalado os explosivos que destruíram seis veículos que abasteceriam tropas internacionais no vizinho Afeganistão
Na última quinta-feira, às 7h, Baitullah Mehsud discou o número de telefone de Alamgir Bhittani, um correspondente de rádio da região de Tank, na Província da Fronteira Noroeste do Paquistão. A voz de "Bait", como os pashtuns chamam o temido líder do Taleban paquistanês, era suave e lisonjeira.Ele ligou para o jornalista para se vangloriar de seus feitos, dizendo a ele que seus guerrilheiros foram os responsáveis pelo derramamento de sangue do dia anterior numa academia de polícia próxima à cidade de Lahore, no nordeste do Paquistão. Ele disse a Bhittani que ordenou que seus homens "eliminassem" o maior número possível de aliados do regime paquistanês, que ele classifica como traidor.Usando uniformes roubados, o grupo de dez terroristas conseguiu acesso ao campo de treinamento para matar os recrutas. Eles tomaram reféns e se esconderam em um dos prédios. Helicópteros e unidades de elite do exército e da polícia apareceram no local. Ao final, três dos terroristas explodiram a si mesmos, e o restante foi preso. Quando o derramamento de sangue terminou, oito recrutas da polícia estavam mortos no pátio do quartel.O ataque, disse Mehsud, foi uma retaliação ao fato de o presidente Asif Ali Zardari ter permitido que os americanos perseguissem a ele e seus aliados na região fronteiriça entre o Afeganistão e o Paquistão."Não tenho medo da morte", vangloriou-se Mehsud, antes de fazer uma ameaça. Logo, disse ele, os americanos também vão sofrer. "Levaremos a guerra para Washington com um ataque que deixará o mundo inteiro estupefato".Washington leva essa ameaça a sério. Desde sua eleição em novembro, o presidente dos EUA, Barack Obama, vem pedindo a seus aliados para deixar de tratar o drama da guerra no Afeganistão como um problema isolado, e passar a tratá-lo como um conflito regional que também deve ser conduzido no Paquistão.Quando Obama explicou seus planos de uma campanha intensificada no Afeganistão na cúpula da Otan em Estrasburgo e na cidade de Baden-Baden no sudoeste da Alemanha na semana passada, quase não houve menção ao Paquistão como vizinho do Afeganistão. O presidente também redefiniu seus objetivos de guerra. Seu alvo não é mais levar a democracia ao Afeganistão afetado pela pobreza, mas perseguir e derrotar o Taleban e a Al Qaeda, tanto no Afeganistão quanto no Paquistão. Obama quer estabilidade na região.A nova estratégia gerou até uma nova abreviação no jargão militar: AfPak. E seu objetivo é salvar o AfPak, que está em perigo.

General David Petraeus
veterano do Iraque David Petraeus, chefe do Comando Central dos EUA, espera interromper o que ele chama de "espiral negativa" da guerra, aumentando o número de tropas americanas no Afeganistão para 68 mil e, mais tarde, para 78 mil. Além das operações atuais ao longo da fronteira leste do Afeganistão com o Paquistão, as tropas americanas também assumirão a responsabilidade de lutar contra o Taleban na parte sul do país no ano que vem. Quando isso acontecer, as operações de combate ao longo de quase toda a fronteira com o Paquistão estarão sob o comando militar dos EUA.Em vez de uma "afeganização" do conflito através do treinamento de soldados e da polícia afegã, a nova estratégia resultará na americanização da guerra.Os americanos também estão redefinindo a guerra como uma luta contra três inimigos que, a partir de suas bases no Paquistão, ameaçam o Afeganistão, seu próprio país e o mundo ocidental como um todo. O primeiro inimigo são os guerrilheiros afegãos do Taleban, liderados por Mullah Omar, que deixaram o Afeganistão para seu novo refúgio em Quetta, capital da província de Baluquistão no Paquistão. Seus aliados são os talebans paquistaneses das regiões tribais ao longo da fronteira com o Afeganistão, sob o comando do notório Baitullah Mehsud. Por fim, a Al Qaeda de Osama bin Laden, que continua a operar no Paquistão, fornece apoio material e ideológico para ambos os grupos. Acredita-se que bin Laden e o núcleo de sua rede terrorista também estão na região montanhosa fronteiriça entre o Afeganistão e o Paquistão, onde eles operam aparentemente já há algum tempo.Obama descreveu as regiões de ambos os lados da fronteira como "o lugar mais perigoso do mundo". Obama não está apenas preocupado com a possibilidade de o Ocidente sofrer uma derrota no Afeganistão, mas também de um potencial colapso no Paquistão, uma potência nuclear. O efeito na estrutura de poder nessa parte do mundo e as consequência para o Ocidente seriam incalculáveis.David Kilcullen, conselheiro-chefe do general Petraeus, disse recentemente ao jornal Washignton Post que "dentro dos próximos seis meses um colapso do governo do Paquistão é uma possibilidade em potencial, um perigo que pode ir muito além do que vimos em 11 de setembro". O governo dos EUA agora planeja gastar até US$ 500 milhões por ano para equipar e treinar melhor os militares do Paquistão, como parte de um "orçamento emergencial de guerra".A luta já se espalhou para ambos os lados da fronteira. Há mais de meio ano, os americanos tentaram atacar os militantes islâmicos em seus esconderijos no território paquistanês com mísseis guiados de precisão, uma campanha que começou sob o governo Bush e que Obama continuará agora, com mais força.Os comandantes militares norte-americanos não pedem mais que o governo de Islamabad autorize os ataques aéreos, que são realizados por aviões Predator teleguiados, sem tripulação. De acordo com um relatório de inteligência paquistanês de fevereiro, já aconteceram 80 ataques como esse somente este ano, que resultaram em 375 mortes, de civis e militantes.Em janeiro, Usama al-Kini, chefe da Al Qaeda no Paquistão, entrou para a lista de altos líderes da Al Qaeda mortos nos ataques até agora, que somam cerca de uma dúzia. Al-Kini, que estava na lista dos "mais procurados" do FBI, é suspeito de ser o responsável pelos principais ataques da Al Qaeda a embaixadas americanas na África Oriental em 1998. Os americanos celebraram sua morte como um golpe importante contra a rede terrorista no Paquistão.O diretor da CIA Leon Panetta elogia os aviões teleguiados como "a arma mais efetiva" na luta contra os grupos militantes no Paquistão. Na semana passada, os americanos atacaram um dos campos de Mehsud no noroeste do Paquistão, matando 12 militantes.

Tropas norte-americanas
Barack Obama anunciou aumento no número de soldados na regiãoMehsud, 35, é visto como o exemplo da nova geração impiedosamente ambiciosa de guerrilheiros do Taleban. Durante a invasão dos EUA em novembro de 2001, ele esteve no comando de apenas um pequeno grupo de guerrilheiros. Mais tarde, ajudou a esconder líderes fugitivos da Al Qaeda nos vilarejos montanhosos do Waziristão do Sul. Os "árabes", o termo que a população local usa para designar os militantes estrangeiros, mostraram sua apreciação, fornecendo apoio financeiro a Mehsud e treinando seus guerrilheiros.Mehsud já foi professor de educação física numa escola do Corão. Ele não tem muita escolaridade e nenhum título religioso. Mesmo assim, conseguiu instalar, e está expandindo sistematicamente, um reinado de terror nas regiões tribais. Os traidores são rotulados de "espiões" e "inimigos do Islã" e são publicamente decapitados. Quando os familiares de um desses "traidores" carregavam o corpo do parente morto para o túmulo, um homem-bomba explodiu todos os presentes.Mehsud é como um ímã, atraindo extremistas de todo o mundo. Entre eles, antigos militantes de Kashmiri que buscam um novo desafio agora que sua organização foi banida, assim como treinadores aposentados da agência de inteligência do Paquistão, a Inter-Services Intelligence (ISI). Centenas de jovens jihadistas dos países do Golfo, da Ásia Central, Uzbequistão, Turcomenistão e Tchetchênia também se juntaram ao grupo de Mehsud.Isso levou ao desenvolvimento do centro de treinamento para o terrorismo internacional mais importante do mundo no Waziristão. Até grupos rivais unem forças aqui.O crédito dessa reconciliação de antigos adversários é do fundamentalista islâmico Mullah Omar, líder do Taleban até o outono de 2001 e praticamente chefe de Estado do Afeganistão na época. Um dos fundadores do Taleban, Omar perdeu um olho na guerra. Acredita-se que ele tenha se casado com uma das filhas de bin Laden e dado abrigo à Al Qaeda no Afeganistão.O presidente afegão Hamid Karzai agora está fazendo concessões preventivas para os islamitas. Como exemplo, ele aprovou recentemente uma lei que exige que as mulheres sempre satisfaçam as necessidades sexuais de seus maridos e peçam permissão para sair em público. A atitude chocou a secretária de Estado Hillary Clinton, que confrontou Karzai em relação ao assunto. O secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, disse que a nova lei tornaria mais difícil justificar o envio de tropas aliadas para o Afeganistão. Só depois de uma onda de críticas Karzai anunciou que iria rever a lei.O Taleban de Mullah Omar não está ganhando força apenas no Afeganistão, mas também está se tornando uma força considerável em outros lugares. No começo do ano, conforme relatou o jornal The New York Times, Omar enviou uma equipe de seis integrantes para o Waziristão para alertar os grupos militantes paquistaneses sobre a nova estratégia dos americanos no Afeganistão e apelar para que eles deixassem de lado as velhas rivalidades. O objetivo, disseram, é reunir forças para libertar o Afeganistão dos ocupantes americanos.Numa carta levada pelos enviados, o líder espiritual do Taleban escreveu: "Se quisermos de fato levar a jihad adiante, devemos lutar contra as forças de ocupação dentro do Afeganistão".Pesadelo nuclearSurpreendentemente, Baitullah Mehsud foi receptivo ao apelo por unidade e alinhou-se com outros líderes do Taleban. No final de fevereiro, folhetos escritos em Urdu apareceram na região de fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão anunciando a formulação de uma nova plataforma para a jihad. O Shura Ittihad-ul Mujahideen (SIM), ou Conselho para os Guerreiros Santos Unidos, declarou que a aliança de todos os militantes foi formada a pedidos de Mullah Omar e bin Laden.O grupo deixou claro que, de agora em diante, seus inimigos não incluiriam apenas o presidente afegão Hamid Karzai e o presidente paquistanês Asif Ali Zardari, mas também o presidente americano Barack Obama."Há uma nova qualidade nisso", diz Imtiaz Gul em sua sala no Centro de Pesquisa e Estudos de Segurança em Islamabad. "Esses grupos são agora a face paquistanesa da Al Qaeda". Gul, que acabou de escrever um livro sobre o terrorismo nas regiões tribais, está convencido que todos os líderes do Taleban estão em contato direto com a Al Qaeda.
De acordo com Gul, seus campos de treinamento para homems-bomba são administrados por comandantes estrangeiros da Al Qaeda. "Até os materiais e o estilo de casacos de explosivos que o Taleban usa agora são idênticos aos dos homens-bomba da Al Qaeda", disse Gul.A expansão da zona de combate está levando o Paquistão para o abismo.A ofensiva dos militantes representam uma ameaça ao Estado, mas as operações militares contra o Taleban também, uma vez que podem causar tanto mal quanto bem. Os ataques remotos na região de fronteira fazem com que os extremistas se desloquem para o interior do Paquistão e para as cidades.
Além disso, os ataques, que quase sempre acabam com a morte de mulheres e crianças paquistanesas, além da morte de militantes, servem como uma ferramenta para recrutar novos jihadistas."Sou contra os ataques teleguiados", disse o conselheiro de Petraeus, Kilcullen. "Mesmo se conseguíssemos matar metade dos líderes da Al Qaeda, como isso nos ajudaria se causássemos um levante da população do Paquistão?" Kilcullen, que é australiano, planejou a estratégia mais recente dos EUA no Iraque, que correu concomitante ao aumento de tropas. Ele agora acredita que "temos que negociar com 90% dos homens com os quais estamos lutando - mas precisamos fazer isso a partir de uma posição forte". Ele também ajudou a desenvolver a nova estratégia AfPak de Obama.Kilcullen compara a situação da região em crise a uma intoxicação sanguínea, observando que os militantes se espalharam por todo o país e o país inteiro está afetado. "Precisamos convencer os paquistaneses", disse ele, "de que a ameaça real vem de dentro - a ameaça do colapso do Estado e de um golpe extremista - e não da Índia".Os militares paquistaneses mal são capazes de conter a marcha de vitória do Taleban. Há poucas semanas, os extremistas ganharam controle sobre o idílico vale de Swat no coração do Paquistão, onde introduziram a Sharia, lei islâmica, e tomaram uma mina de esmeralda para ajudar a financiar seu movimento. O governo em Islamabad é tão fraco que concordou um cessar-fogo com um dos militantes mais cruéis do vale, Maulana Fazlullah, antigo funcionário de um teleférico local.Fazlullah e seus guerrilheiros aterrorizaram os moradores da região de Malakand por mais de dois anos.Desde então o terror penetrou no interior do país, incluindo o Estado de Punjab e sua capital, Lahore.
A cidade, o centro cultural liberal do Paquistão, fica próxima da fronteira com a Índia. Evidências da talebanização crescente da cidade incluem sinais nas vitrines dos estabelecimentos anunciando que meninas não são mais servidas. Em outubro, militantes islâmicos explodiram lojas de bebidas próximas à estação central de Lahore porque casais solteiros supostamente as usavam para encontros românticos. Três bombas explodiram num festival de arte local pouco tempo depois. Hoje, os atos terroristas fazem mais vítimas no Paquistão do que no vizinho Afeganistão. No ano passado, esses ataques mataram 2.267 pessoas.Os militares evitam uma confrontação séria com os extremistas. Muitos oficiais ainda não veem o Taleban como inimigos. O verdadeiro inimigo do Paquistão, na visão deles, é a Índia, o país com o qual o Paquistão rompeu relações e com quem já travou três guerras. Vários oficiais dizem que a guerra contra o terrorismo na parte noroeste do país está sendo forçada pelos americanos, que eles estão lutando a guerra errada.Durante décadas, os lideres militares deram ao ISI uma liberdade considerável no tratamento dos grupos terroristas. A atitude de laissez-faire dá a eles espaço para manobrar.O general Ahmed Shuja Pasha, um homem agradável com o cabelo cuidadosamente repartido, senta-se numa sala elegante da sede do ISI em Islamabad. "O ISI é uma agência de segurança e está presente nas frentes de defesa do país", diz ele.
Na verdade, entretanto, a agência de inteligência segue sua própria política exterior velada. Pasha aponta que nos anos 80, o Paquistão - juntamente com os americanos - apoiou os mujahedeen afegãos em sua guerra contra os soviéticos. Esse tipo de auxílio foi considerado desejável na época, explica, e acrescenta: "É preciso compreender que tanto a inteligência do Afeganistão quanto da Índia estão trabalhando contra nós. Com certeza seria estranho se nós fôssemos os únicos a não fazer nada".Os americanos há tempos suspeitam que o ISI está fazendo um jogo duplo. Depois de 11 de setembro de 2001, o ex-presidente Pervez Musharraf perseguiu por conta própria os terroristas da Al Qaeda que buscavam refúgio na região fronteiriça e recebeu bilhões de auxílio militar em troca. Na mesma época, todavia, ele poupou os líderes do Taleban, permitindo que se escondessem.
Num artigo recente do The New York Times, oficiais do governo Obama foram extremamente diretos ao acusar o ISI de apoiar o Taleban em sua luta contra a aliança ocidental e o governo Karzai em Cabul. Esse apoio, disse ele, inclui munição e combustível, assim como o recrutamento de guerrilheiros. Os oficiais disseram que conversas telefônicas grampeadas provam que membros da inteligência paquistanesa até mesmo alertaram o Taleban de ataques planejados contra eles.Essas conclusões coincidem com a impressão que Mike McConnell, ex-diretor da Agência de Segurança Nacional (NSA), um serviço de inteligência norte-americano, teve durante uma visita a Islamabad no ano passado. Um general duas-estrelas paquistanês explicou com honestidade a McConnell como é a mentalidade de seus colegas comandantes, notando que apesar de o exército lutar contra o Taleban de acordo com instruções dos políticos, ele também apóia os militantes.
Os americanos, refletiu o general, eventualmente sairão do Afeganistão, e quando isso acontecer os militares paquistaneses serão responsáveis por evitar que a Índia avance no vácuo de poder. "É por isso que precisamos apoiar o Taleban", disse o general.De acordo com Bruce Riedel, conselheiro de Obama, o Paquistão "criou um Frankenstein que ameaça o próprio Estado paquistanês". A ex-secretária de Estado norte-americana Madeleine Albright descreveu o Paquistão como uma "enxaqueca internacional", notando que ele tem armas nucleares que poderiam cair nas mãos dos terroristas - um cenário de pesadelo, na esteira do 11 de setembro.O diretor do ISI, Paha, conhece esses temores que pairam nas capitais do Ocidente. Ele derrama chá nas xícaras feitas de porcelana inglesa. Diz que está entristecido com a noção de que o mundo acredita que seu país pode cair nas mãos dos terroristas. "Isso é inimaginável", diz ele. "Nunca acontecerá".Mas o general é conhecido por cometer erros. Apenas recentemente, referiu-se ao brutal líder do Taleban Baitullah Mehsud como um bom "patriota". Bom para o Paquistão, para o ISI, ou para quem?O governo americano colocou agora uma recompensa de US$ 5 milhões sobre a cabeça de Mehsud.

Tradução: Eloise De Vylder

domingo, 5 de abril de 2009

A CORÉIA DO NORTE E AS TENSÕES NA ÁSIA!

da Reuters
A Coreia do Norte lançou por volta das 11h30 deste domingo (23h30 de sábado pelo horário de Brasília) o foguete de longo alcance destinado, segundo o país, a colocar um satélite experimental de telecomunicações em órbita. Os governos da Coreia do Sul, dos EUA e do Japão, que dizem que o lançamento disfarça um teste do míssil de longo alcance Taepodong-2, confirmaram o lançamento do foguete e classificaram o ato como "lamentável" e como uma "provocação".

Por que a Coreia do Norte lançou o foguete?
A máquina de propaganda norte-corenana vai retratar um lançamento bem sucedido como um símbolo de força da liderança de Kim Jong-il depois de um suposto derrame em agosto levantar questões sobre seu poder. Também mostrará a todos os coreanos que o Norte lançou um foguete carregando um satélite antes do rico Sul, que pretende fazer o mesmo em julho.
Internacionalmente, o lançamento sinaliza ao presidente americano, Barack Obama, que a Coreia do Norte está chegando perto de desenvolver uma arma que possa atingir o território americano e que o país deve ser encarado com seriedade.
Do ponto de vista do mercado de armas, o lançamento pode servir para a Coreia do Norte vender ao mundo que sua tecnologia balística está se desenvolvendo, uma vez que a venda de armas é um dos principais itens que o isolado país pode oferecer.

Por que o foguete é perigoso?
No curto prazo, a maioria dos especialistas considera que o maior risco que o foguete pode oferecer são seus pedaços caindo após o lançamento.
No longo prazo, qualquer tipo de teste aumenta a ameaça representada pela Coreia do Norte porque a deixa mais perto de construir um míssil que poderia atingir o território dos EUA. Especialistas dizem que não acreditam que a Coreia do Norte tenha a capacidade de colocar uma arma nuclear em um míssil, mas pode estar tentando desenvolver a tecnologia.
Ainda se eles tivessem essa tecnologia, eles ainda não parecem ter a capacidade de guiar um míssil para um alvo.

Por que Pyongyang avisou o mundo do lançamento?
Isso fortalece o argumento norte-coreano de que os motivos são pacíficos. A Coreia do Norte alega que todo país tem o direito de explorar o espaço pacificamente e que as sanções da ONU que a proíbem de desenvolver mísseis balísticos não se aplicam no caso do lançamento de um satélite.

O lançamento de um míssil não é diferente do lançamento de um satélite?
Para os EUA, Coreia do Sul e Japão, não há diferença entre os dois porque a Coreia do Norte usa o mesmo foguete --o Taepodong-2. Os três países veem qualquer teste deste foguete como uma violação das resoluções da ONU porque o lançamento ajuda o Norte a melhorar sua tecnologia de mísseis de longo alcance.
Por outro lado, um teste de míssil completo incluiria uma reentrada na atmosfera no alvo e seria um desafio tecnológico maior do que o lançamento de um satélite.
Os especialistas também têm dúvidas se o Norte pode de fato produzir um satélite que funcione e colocá-lo em órbita. Mas eles dizem que a Coreia do Norte pode ser capaz de fazer um baseado em desenhos rudimentares de satélites soviéticos antigos.

Reações
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou que o Conselho de Segurança deveria enviar uma mensagem enfática à Coreia do Norte por conta do que analistas acreditam que foi, de fato, o teste de um míssil desenvolvido para transportar uma ogiva a uma distância equivalente a até o Alasca. O lançamento do foguete é o primeiro grande desafio de Obama relacionado à Coreia do Norte. Os esforços norte-coreanos para ter armas nucleares há tempos preocupam Washington. O regime comunista testou um dispositivo nuclear em 2006. "Com esse ato de provocação, a Coreia do Norte ignorou as suas obrigações internacionais, rejeitou os pedidos por moderação e se isolou ainda mais da comunidade de nações", disse em comunicado Obama, num giro pela Europa.
A Coreia do Sul classificou o lançamento do foguete como um ato "irresponsável." Segundo o Japão, foi "extremamente lamentável." A União Européia "condenou com o ênfase" a ação. A China e a Rússia pediram calma e moderação a todos os lados.
A Coreia do Sul inicialmente afirmara que o foguete parecia levar um satélite, mas o ministro da Defesa mais tarde disse ao Parlamento que o objeto não havia conseguido entrar em órbita, segundo relatou a Kyodo, agência de notícias japonesa.
"A Coreia do Norte deve avaliar agora que a sua posição na mesa de negociações fortaleceu, pois ela tem as cartas nuclear e também a do míssil", afirmou Shunji Hiraiwa, analista com base no Japão.
Park jong-Kyu, economista em Seul, opinou que os impactos do lançamento nos mercados não serão consideráveis. "Quando a Coreia do Norte fez testes nucleares anos atrás, os mercados de Seul caíram no dia, mas se recuperaram no dia seguinte. O tema não é mais um fator que abale mercados", declarou Park.