sábado, 11 de abril de 2009

FOCO 17: A TRANSNÍSTRIA, DA MOLDÁVIA: TENSÕES ENTRE MOLDÁVIA E ROMÊNIA !

Moldova acusa a Romênia de estar por trás da revolta dos jovens
Pilar BonetEm Kichinev (Moldova) EL PAÍS
O presidente da Moldova, o comunista Vladimir Voronin, internacionalizou na quarta-feira a crise política e os tumultos de rua depois das eleições legislativas de domingo ao acusar a Romênia de instigar as desordens, declarar "persona non grata" o embaixador de Bucareste, Filipp Teodorescu, e estabelecer um visto obrigatório para os romenos que viajam à Moldova.
Tumultos na Moldova
As tensões que culminaram na terça-feira com o saque ao Parlamento e à Presidência continuaram ontem à noite em uma manifestação diante da sede do governo, que continuará hoje. Em uma nova mensagem pela internet, os moldávios foram convocados na sexta-feira para a grande manifestação contra os comunistas diante do Parlamento.Segundo os dados definitivos anunciados ontem, os comunistas têm 60 assentos (de um total de 101), e por isso não têm a maioria necessária para eleger isoladamente o chefe do Estado. Voronin advertiu ontem que as forças de segurança utilizariam a partir de agora seu direito à violência para repelir as agressões contra as instituições do Estado.
Os líderes das três formações de oposição classificadas nas urnas, Vlad Filat, do Partido Liberal Democrático, Dorin Chirtoaca, do Partido Liberal, e Serafim Urechean, da Aliança Nossa Moldova, se reuniram ontem para combinar sua atuação.A grande dificuldade para canalizar a multidão e evitar a violência é a falta de coordenação e a desconfiança mútua entre os três protagonistas da crise: as autoridades comunistas, a nova oposição parlamentar e os jovens. As autoridades insistem no procedimento legal habitual para investigar as irregularidades eleitorais. Filat afirmou ontem que isso levará à repetição da votação e insistiu que deve ser feito antes da distribuição de assentos parlamentares.
Os jovens são um conjunto heterogêneo em que há estudantes universitários e secundaristas. Não parece que haja um movimento estudantil global e estruturado que assuma responsabilidades, mas os inspiradores do comício pacífico da noite de segunda-feira reuniram representantes de 16 grupos que na tarde de terça constituíram a Coalizão Popular Anticomunista 2009.
Em nome dessa entidade, "que não se identifica com nenhum partido político", assinaram uma declaração na qual exigem a anulação das eleições, liberdade de imprensa e a libertação dos detidos.Os políticos olham com desconfiança para os que dizem ter levado à rua 15 mil pessoas (em vez das 300 previstas) apenas com os telefones celulares e as redes sociais como Facebook e Twitter. Enquanto uns e outros negam a responsabilidade pelos desmandos de terça-feira, crescem os descontrolados. "Tive muito trabalho para evitar que assaltassem a televisão", disse Filat. "Os partidos de oposição não tinham nem microfone", indicou a jornalista Natalia Morar, uma das seis convocadoras da manifestação de segunda. Guenadie Brega, outro jovem convocador, está "refugiado na embaixada da Romênia", segundo Morar.
A promotoria informou sobre a detenção de 200 pessoas.Voronin anunciou suas medidas contra a Romênia diante de representantes do governo e de instituições acadêmicas. Os cidadãos da UE viajam para a Moldova sem visto, e a introdução dessa exigência para os romenos pode causar problemas à sociedade, já que muitos moldávios também têm passaporte romeno e se sentem culturalmente romenos.A maior parte do território da Moldova está na Bessarábia, uma região que pertenceu à Romênia. Bucareste ofereceu a nacionalidade aos moldávios com raízes na Bessarábia e recebeu 800 mil pedidos, o que corresponde em grande parte à oportunidade de ter acesso ao mercado de trabalho da União Europeia. Fontes próximas ao governo calculam que pode haver 32 mil moldávios com nacionalidade romena.
Referindo-se às medidas contra a Romênia, Voronin disse que se trata de "um passo político para que os romenos entendam que nós temos nosso Estado independente, a República da Moldova, e que não metam o nariz em nossos assuntos". "Nossa paciência tem limite", disse o presidente, que acusou a oposição de tentar um golpe de estado e ter uma atitude "antiestatal". Voronin expressou na essência suas dificuldades para que seu país, surgido do desmoronamento da União Soviética, se cristalize como Estado por si só, diante de um vizinho que influi poderosamente na forma de identificação dos jovens. Daí suas críticas às autoridades acadêmicas pela educação dos estudantes.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

09/04/2009 - 02h43, LE MONDE
A Moldova à beira da asfixia econômica
Alexandre BilletteEnviado especial a Kichinev (Moldova)
Em Kichinev, capital da pequena Moldova, o número de canteiros de obras em construção engana. Longe de refletir a verdadeira saúde econômica do país - à beira da asfixia -, as fachadas restauradas indicam somente que o proprietário foi trabalhar no exterior. Esse movimento migratório em massa manteve a Moldova desde a queda da URSS em 1991. Mas por quanto tempo ainda?
País essencialmente agrícola, o antigo "celeiro de frutos" da União Soviética corre o risco de sofrer fortemente as consequências da crise econômica mundial. Pois a Moldova sofre de uma hemorragia demográfica. Em 2008, por falta de emprego, pelo menos 350 mil moldávios foram ganhar a vida no exterior, ou seja, 10% da população total, 25% dos economicamente ativos."No ano passado, as remessas bancárias para a Moldova, dos trabalhadores no exterior, giravam em torno de ? 1,22 bilhões (R$ 3,56 bilhões); 38% do PIB", explica Ghenadie Credu, da Organização Internacional para as Migrações (OIM). No mundo, somente o Tadjiquistão depende mais de seus trabalhadores expatriados.Com a crise econômica, a diminuição das transferências de fundos, e até o retorno dos trabalhadores imigrantes, poderia desestabilizar esse país cercado pela Romênia e pela Ucrânia. "É uma bomba-relógio social", avisa Credu. Os moldávios que tomaram o rumo da Europa provavelmente vão ficar por lá, mas 60% dos imigrantes trabalham na Rússia e na Ucrânia, sobretudo no setor de construção. Eles voltaram neste inverno, e com a crise, eles correm o risco de ficar aqui, por falta de coisa melhor".
Mas é inútil procurar uma referência para esse fenômeno durante a campanha para as eleições parlamentares do dia 5 de abril, marcadas por uma vitória esmagadora do Partido Comunista Moldávio (PCM), no poder em Kichinev desde 2001. "As autoridades fingem ignorar a crise", observa Vasile Botnaru, redator-chefe da Radio Free Europe.
Oposição dividida
O partido do presidente Vladimir Vornine preferiu exaltar a "estabilidade" da Moldova, "no caminho para a integração europeia". Uma estabilidade que tem um preço: "Para manter o leu (a moeda nacional) estável até a votação, as autoridades recorreram às reservas de divisas", explica Botnaru.
Em três meses, o Banco Central teria gasto um terço de seus US$ 100 milhões; alguns chegam a afirmar em Kichinev que há risco de falência.A oposição liberal poderia aproveitar esse contexto econômico degradado. Mas ela se dividiu, destroçando-se em dez formações diferentes. Vasile Botnaru questiona: "E se a oposição preferiu abrir mão em favor dos comunistas, para não ter de administrar as consequências desastrosas da crise?"Mal organizada e sem líder, a oposição liberal não soube mostrar sua diferença. Todos os partidos - inclusive os comunistas - são a favor da integração europeia; todos pedem pela volta ao domínio moldávio da Transnístria, região separatista sustentada por Moscou desde 1991.
Em época de crise, a corrida eleitoral adquiriu um tom populista: os comunistas prometeram um aumento de 20% das aposentadorias a partir de abril; os liberais responderam anunciando um salário médio de "? 500 (R$ 1.460) por mês", contra os atuais 174.Mas neste jogo, os comunistas foram mais convincentes. Resultado: no domingo à noite, a oposição se viu com menos de 35% dos votos. "É melhor lidar com os comunistas de Voronine e induzi-los àquilo que eles têm de parecido conosco, pouco a pouco, do que estar diante de um interlocutor dúbio", reconhece um diplomata europeu em Kichinev.
A dissolução da oposição não é a única explicação para o maremoto eleitoral dos comunistas. A utilização dos "recursos administrativos" do Estado e a influência do PCM sobre a maior parte da mídia lhe permitiu dominar seus adversários. "Foi a campanha mais suja dos últimos dez anos", diz uma jornalista da Pro-TV, filial de um canal de televisão romeno e principal emissora da oposição, cuja licença de exploração quase não foi renovada em dezembro de 2008.Desde o anúncio dos resultados, o índice de participação de 60% anunciado pelas autoridades durante a votação de domingo foi apresentado como uma prova de falsificação.
Uma vez que centenas de milhares de moldávios no exterior não puderam votar, por falta de representação diplomática em seus países, a participação anunciada significaria que 80% dos eleitores na Moldova teriam comparecido às urnas. Uma porcentagem considerada estranha pela oposição.Claro, o eleitorado comunista tradicional - especialmente os aposentados e os camponeses - se manteve fiel aos seus ideais. Mas a intelligentsia da capital e os estudantes se sentem cada vez menos à vontade na Moldova de Vladimir Voronine, perplexos pelas manobras diplomáticas do regime entre Bruxelas e Moscou. Para eles, as promessas de "estabilidade" do PCM são só um sinônimo de inércia. Na segunda-feira (6), eles engrossaram os batalhões de manifestantes que invadiram as ruas de Kichinev, pilharam o Parlamento e apedrejaram a presidência.
Tradução: Lana Lim

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