sábado, 27 de setembro de 2008

FOCO 42: OS CONFLITOS NA SOMÁLIA !

O mapa acima se refere à Somália, país do chamado "Chifre a África", localizada na porção centro-oriental do continente e é caracterizada historicamente por inúmeros conflitos de caráter étnico, fome crônica e condições climáticas de semi-aridez (parte da região está localizada no Sahel).

A Republica da Somália é o produto da união, realizada em 1960, de duas antigas colónias, a Somalilândia Britânica e a Somalilândia Italiana. Rapidamente, como ocorreu em tantas outras ex-colónias, o novo país, que conta com cerca de 7 milhões de habitantes, na sua maioria muçulmanos sunitas, entrou em caos quando Said Bare, um comandante militar ao serviço do governo democrático em funções desde 1960, toma de assalto, através de um golpe de estado em 1969, o poder no país, proclamando a instauração de um estado socialista. A Somália rapidamente degenera numa ditadura militar com Bare a lançar, em 1976, ofensivas militares à Etiópia numa tentativa de anexar a região do planalto de Ogaden cujos habitantes falam somali. No entanto a Etiópia resiste ás incursões de Bare conseguindo manter o domínio do planalto.
Em 1991 Mohammad Ali Mahdi substitui Bare no decurso de uma guerra entre clãs que, dividiu o país e perdura até hoje. Como consequência do golpe de estado de Mahdi, a capital, Mogadishu, passa a ser controlada pelo general Mohammad Farah Aidid. Em 1992, as Nações Unidas e os E.U.A enviam tropas para o país num esforço de capturar Aidid e estabilizar a região. Foi no decurso desta operação que ocorreu o famoso episódio em que a queda de um helicóptero Black Hawk, levou à morte de 18 soldados americanos, incidente após o qual os E.U.A retiraram as suas tropas do país, exemplo seguido pelas Nações Unidas em 1995.
Desde então, foi criado um governo de transição no país suportado pela Etiópia, o qual é ilegítimo aos olhos da maioria do povo somali, que vê neste um mero fantoche dos vizinhos etíopes. A influência verdadeira deste governo de transição, limita-se a uma pequena parcela do território somali, estando o restante território fragmentado entre os diferentes clãs comandados por senhores da guerra que se degladiam entre si pelo controlo das riquezas do país.
Em Junho de 2006, a União Tribunais Islâmicos (UTI), formada após vários empresários influentes de Mogadishu, terem fundado tribunais islâmicos, numa tentativa de impor a lei e ordem na cidade devastada por anos de conflitos pontuais entre clãs rivais, tomam o controlo da cidade e iniciam uma campanha de combate ás várias facções que espalham o caos pelo país, estendendo a sua influência a grande parte do sul do território da Somália, onde se localizam as maiores reservas de petróleo. Ao longo do resto do ano, forças etíopes, apoiadas pelos E.U.A, entram no território somali com o propósito de proteger o governo de transição da ameaça da UTI a qual, a Etiópia acusa de querer impor um estado islâmico na Somália, projeto esse apoiado pela Al-Qaeda como forma de expandir o fundamentalismo islâmico em África. No entanto a Etiópia só admite a realidade do seu conflito militar com a UTI a 24 de Dezembro 2006.
Á medida que o conflito se arrasta, a situação humanitária vai-se agravando com milhares de refugiados e mortos civis, resultado não só dos combates entre as forças opositoras, mas também, dos surtos de cólera registados entre os sobreviventes.
Entretanto os E.U.A levantam os embargos à aquisição de armas por parte da Etiópia, cujo fornecedor é, entre outros, a Coreia do Norte, de forma a permitir que esta se equipe para a sua luta contra a UTI. Washington está convencida, de que, a UTI dá refugio a militantes terroristas, e suporta a Etiópia na caça aos mesmos, tendo enviado para o terreno cerca de 200 agentes da CIA e FBI, que aí, estabeleceram locais de interrogatório para os combatentes que sejam identificados com a Al-Qaeda.
No entanto, até agora, apesar da tragédia humanitária que ocorre na Somália e dos milhares de desalojados, feridos e mortos devido aos bombardeamentos aéreos, ainda não foi provada a ligação de nenhum dos prisioneiros com a Al-Qaeda. Enquanto os E.U.A vão apoiando a campanha militar da Etiópia, o sentimento anti-americano vai-se intensificando e a adesão à causa da UTI vai ganhando terreno entre a população.
Chatham House, um “Think Tank” britânico da “Independent Royal Institute of International Affairs” conclui “Num desconfortável padrão familiar, genuína preocupação multilateral para apoiar a reconstrução e reabilitação da Somália, foi passada para segundo plano pelas ações unilaterais de outros atores internacionais, especialmente a Etiópia e os E.U.A, mais preocupados em seguir as suas próprias agendas de politica externa.”
No dia 23 de Janeiro de 2007, foi realizada uma cerimónia em Mogadishu, conquistada a 28 de Dezembro de 2006 pelas forças do governo de transição apoiadas pela Etiópia, que marca o inicio da retirada das tropas etíopes do território somali, supostamente assim sendo oficializado o fim das hostilidades, e da pretensão da UTI a substituir o governo de transição na Somália. No entanto tudo aponta que a UTI não desistiu do seu projeto, e, tanto quanto se sabe até agora, apenas cerca de 200 soldados Etíopes foram vistos a abandonar a Somália.
por André Saramago.

NOTÍCIAS RECENTES SOBRE O TEMA
Confrontos contra rebeldeConfrontos contra rebeldes deixam 9 mortos na Somália
Agencia Estado, 10/09/08
Combates pesados entre tropas etíopes e insurgentes islâmicos irromperam hoje em Mogadíscio, matando pelo menos nove somalis, afirmaram testemunhas. A luta recomeçou após apelos do fortalecido movimento islâmico para intensificar os ataques contra os etíopes no mês islâmico do Ramadã.
Os moradores dizem que cerca de cem militantes armados, gritando "Deus é grande", lançaram um ataque contra uma base de soldados etíopes e regulares do Exército da Somália no bairro de Huriwaa, no noroeste da capital do país.
O morador Abdiwali Mohamud contou que viu quatro civis mortos no fogo cruzado, em uma batalha que durou duas horas. Outro morador, Abdinur Sheikh, disse que viu os cadáveres de três insurgentes e de dois soldados somalis na rua. Salado Mahad, dono de um quiosque no mercado de Huriwaa, afirmou que os soldados etíopes atiraram contra um açougue no centro comercial, ferindo duas mulheres e quatro homens.Os insurgentes islâmicos lutam pelo controle de várias partes do país com o governo local, que é apoiado pelas Organização das Nações Unidas (ONU) e conta com a ajuda de tropas etíopes. Os confrontos ocorrem desde a expulsão dos islamitas da capital, em dezembro de 2006. Porém, a Somália não tem um governo que controla de fato o país desde 1991. Naquele ano, o ditador Mohammed Siad Barre foi derrubado por senhores de guerra, baseados em alianças de clãs. Em seguida, esses clãs começaram conflitos entre si.

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